Os comentários dos jornalistas João Lemos Esteves e Paulo Baldaia, nos seus blogs, ao convite feito pelo Governo e retirado à última hora.
Para ler na íntegra, clicando no link em baixo.
Passos Coelho já teve um gesto à governo Santana Lopes
por João Lemos Esteves
A lista dos secretários de Estado já estava concluída. Elaborada com grande secretismo e expectativa, pois com a redução de ministros e a constituição de super-ministérios, os secretários de estado - e muitos em lugares chave para o futuro de Portugal - serão decisivos, Passos queria surpreender hoje. Em rigor, o objetivo de Passos Coelho era mostrar que trabalha longe dos holofotes mediáticos, assumindo-se como o anti-Sócrates. Para marcar a diferença. E Passos Coleho tem, desde os tempos da JSD, um ódio de estimação: Marcelo Rebelo de Sousa.
Ora, foi precisamente o comentador da TVI que no, domingo, anunciou o nome de Bernardo Bairrão (recorde-se, administrador da TVI) como o novo secretário de estado da Administração Interna. O próprio já tinha confirmado e era a primeiríssima escolha de Miguel Macedo, ministro desta pasta. Porém, Passos Coelho, à última hora, sem razão aparente, rejeitou o nome de Bernardo Bairrão. E, digam o que disserem, a razão é muito simples: porque foi Marcelo Rebelo de Sousa que anunciou pela primeira vez o nome de Bernardo Bairrão.
A exclusão de Bairrão tem três finalidades:
- Descredibilizar e mostrar independência em relação a Marcelo Rebelo de Sousa. Com efeito, Marcelo é o comentador político mais influente em Portugal e, tradicionalmente, os líderes do PSD sofrem com os seus comentários televisivos. E raramente - tirando Santana Lopes e Filipe Menezes - os líderes do PSD hostilizam excessivamente Marcelo Rebelo de Sousa. Ora, Passos Coelho quer mostrar a rutura - que os comentários do professor não o condicionam e até podem prejudicar o país por revelar fatos que não devia. O grande objetivo é mostrar que Marcelo é uma espécie de joker, que analisa a política como um jogo de casino ou o totobola, tentando afastar os portugueses do professor. Atacando a sua credibilidade. Ao mesmo tempo que Passos aumenta o seu ego político, perdendo os seus complexos de inferioridade em relação a certas figuras do partido;
- Passos quer reforçar a sua autoridade. Quer dar uma imagem aos portugueses de que não é influenciável. Que quem revela as suas decisões é ele. A informação só será divulgada no timing que o governo achar mais adequado. Nem mais, nem menos um segundo. A exclusão de Bernardo Bairrão é um castigo por não ter ficado caladinho e revelar o convite que recebeu a Marcelo Rebelo de Sousa. Desobedeceu a Passos Coelho, logo, fica fora do governo;
- Ser um exemplo para os membros do governo: quem não obedecer a Passos ou falar mais do que deve, tem o seu destino traçado. A sua saída do governo será certa. Nos primeiros tempos do governo, esta parece uma atitude sensata: o problema é que vai chegar a um ponto em que os ministros não vão achar muita piada e a coesão interna será posta á prova. Passos está a esticar a corda. Autoridade não é prepotência.
Esta historieta que envolve Bernardo Bairrão é a primeira grande trapalhada do governo Passos Coelho. Mal explicada. Muito mal explicada. Porque não se quer revelar a verdadeira razão da exclusão. O primeiro-ministro confirmar que tem um ódio de estimação não fica muito bem. Ontem, pareceu que voltámos ao governo Santana Lopes e às suas - chamadas - trapalhadas. Com muitas destas, o governo poderá ficar-se pelos seis meses.
(...)
Bairrão barrado à entrada
por Paulo Baldaia
Na primeira página de um jornal de ontem li que havia 20 independentes no governo, noutras primeiras páginas li que Bernardo Bairrão tinha sido vetado para a Administração Interna por causa da sua opinião em relação à RTP. Se estar contra a privatização da RTP fosse razão para ficar fora do governo, o que estariam lá a fazer os ministros do CDS, partido que também não quer ouvir falar do assunto?
Sobre os independentes convém lembrar que eles vão governar com um programa que tem na sua génese as promessas eleitorais que o PSD e o CDS fizeram em campanha. Mas sei que Pedro Passos Coelho não quis revelar as bases programáticas, quando assinou o acordo com Paulo Portas, alegando que os ministros teriam uma palavra a dizer sobre o programa final. E foi, portanto, o primeiro-ministro que nos garantiu que os independentes do seu governo teriam independência até para participar na elaboração do programa.
Ora, se há independentes com independência, não terá sido a opinião de Bernardo Bairrão sobre o sector televisivo a impedi-lo de entrar no selecto grupo do governo. Sem fontes que me digam coisa diferente do que me disseram os jornais, procurei no passado recente razões para Passos barrar o caminho a Bairrão. O seu papel na polémica TVI/Sócrates, as más relações de Bairrão com Moniz, as duas coisas juntas? Não tenho a resposta para estas perguntas, mas não acredito que Bairrão tenha ficado de fora por causa de um delito de opinião. Tem de ter sido qualquer coisa mais importante. Talvez nunca cheguemos a saber, porque a transparência nunca é a que nos prometem.
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