Folha de S.Paulo - edição de 12.06.2011
O DataFolha publicou hoje um estudo sobre o índice de aprovação do Governo de Dilma, elaborado durante a crise política causada pelas suspeitas de enriquecimento ilícito que se abateram sobre o então ministro da Casa Civil da Presidência, António Palocci.
Os resultados mostram que, ao contrário do que muitos poderiam supor, a avaliação que os brasileiros fazem do caso Palocci não repercutiu negativamente na sua aprovação ao Governo Dilma. Ainda assim, 60% acham que o escândalo prejudicou a imagem pessoal da presidente e 57% que estava a par do nome dos clientes que o ex-ministro continua a recusar-se revelar.
Os dois dados são interessantes: se, por um lado, os brasileiros mostram separar eventuais falhas na actuação pessoal de um ministro do restante Governo, por outro, também permitem perceber que - e talvez por isso mesmo - cobram uma acção de demarcação política mais rápida e enérgica do que aquela que foi demonstrada pela presidente. Dilma demorou cerca de 20 dias a agir, desde que o caso foi denunciado publicamente. Durante todo esse tempo nunca se pronunciou sobre a polémica e, embora se saiba que pressionou a saída do seu ministro quando a base de apoio do próprio Governo se juntou à oposição para o exigir, a verdade é que, formalmente, não foi ela quem o demitiu, mas sim Palocci quem apresentou a Carta de Demissão que Dilma se limitou a aceitar.
A pesquisa incide ainda sobre um outro aspecto que importa à reflexão: o facto do ex-presidente Lula ter prontamente resolvido largar a chácara e rumar a Brasília para intervir directamente na crise. De acordo com o DataFolha, 64% dos brasileiros - não é coisa pouca! - consideram normal que assim tivesse acontecido. Ora, por mais querido que Lula tenha sido e continue a ser aos olhos dos brasileiros, o facto é que não mais dispõe de legitimidade democrática para intervir e menos ainda conduzir a acção governativa no Brasil.
Não deixa de ser preocupante que os brasileiros demonstrem confundir, de forma tão inocente quanto passiva, popularidade e legitimidade. Até que novamente se submeta às urnas e através delas obtenha respaldo para intervir, a realidade é uma e uma só: o ex-presidente não é parte de nenhuma das instâncias democraticamente eleitas e constituídas pela única via com legitimidade para as mandatar - o voto.
Lula pode continuar a ter poder político para agir, mas já não dispõe de poder democrático que o autorize a fazê-lo.
Para o Brasil, como para qualquer democracia, é demasiado perigosa esta permeabilidade (amplamente aceite, aliás, a avaliar pelo que os resultados mostram) à intromissão de actores exteriores aos órgãos de soberania, quaisquer que eles sejam, na condução do governo de um país.
Do mesmo modo que demonstram saber distinguir o todo da parte, no que respeita aos deslizes de Palocci e ao Governo de Dilma, é urgente e imprescindível que os brasileiros mostrem que aprenderam, de uma vez e para sempre, a separar a empatia e os afectos que Lula lhes inspira dos equívocos a que, pela mesma via e não raras vezes, os pretende induzir.
(...)
Fica, clicando no link em baixo, a pesquisa do DataFolha e respectiva análise, bem como o artigo que acompanhou a sua publicação na Folha de S.Paulo.
por Fernando Canzian *
A crise que levou à demissão do ex-ministro Antonio Palocci (Casa Civil) na terça passada e a alta da inflação no país não tiveram impacto negativo na aprovação do governo Dilma Rousseff. Mas a imagem pessoal da presidente piorou e os brasileiros estão mais pessimistas com os rumos da economia, especialmente com o comportamento da inflação. Mesmo sem ter afetado a aprovação geral do governo, o caso Palocci foi prejudicial para Dilma, acreditam 60% dos brasileiros.
Segundo pesquisa Datafolha realizada nos dias 9 e 10 de junho, 49% dos entrevistados consideram a gestão Dilma como ótima ou boa. No último levantamento, de março, eram 47%. A margem de erro da pesquisa, que ouviu 2.188 pessoas em todo o país, é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Houve queda na avaliação de Dilma somente entre os brasileiros que têm ensino superior. Entre os que não passaram do fundamental ou do médio, a aprovação ficou estável ou aumentou. Já a imagem da presidente piorou em três dos quatro aspectos pesquisados, particularmente em relação à sua capacidade de tomar decisões. A imagem de "decidida" de Dilma caiu 17 pontos, de 79% em março para 62% no levantamento de agora.
Dilma levou três semanas para demitir Palocci depois de a Folha revelar que o patrimônio do ministro havia aumentado 20 vezes em quatro anos. O fato deflagrou a maior crise política do governo da presidente até agora. Houve queda também entre os que consideram Dilma "muito inteligente" (85% para 76%) e "sincera" (65% para 62%). A imagem de "autoritária" também diminuiu. Caiu de 44% para 41%.
Economia preocupa
Em relação à economia, houve piora generalizada nas expectativas. A queda é maior entre os mais pobres.
Hoje, a maioria (51%) diz acreditar que a inflação vai continuar subindo. Em março, só 41% apostavam nisso.
Houve também queda de dez pontos percentuais (de 43% para 33%) no total dos que acreditam que o poder de compra vá aumentar.
Entre os brasileiros que ganham só até cinco salários mínimos (R$ 2.725) a percepção de piora nas expectativas de inflação cresceu mais rapidamente do que entre os que recebem acima disso.
É nessa faixa mais pobre da população que a inflação provoca mais estragos, pois ela costuma comprometer quase toda a renda com despesas mensais, principalmente com alimentação.
A pesquisa mostra também que aumentou de 27% para 32% o total dos que consideram que o desemprego vai crescer daqui em diante.
Os últimos meses foram marcados por um conjunto de notícias negativas na economia: a inflação subiu mais do que o esperado, o rendimento real dos trabalhadores encolheu e os custos de empréstimos ao consumo subiram (enquanto os prazos de pagamento encolheram).
Apesar de a maior parte dos brasileiros achar que a economia vai melhorar (42%) ou ficar como está (37%) nos próximos meses, o índice dos que apostam em dias piores subiu de 9% para 17% nos últimos três meses.
A taxa de otimistas caiu oito pontos percentuais. Passou de 50% para 42%.
Um indício de por que esse pessimismo ainda não atingiu a popularidade do governo pode estar no fato de que ele não se mostra tão intenso na rotina do entrevistado.
Apesar de a avaliação do poder aquisitivo da família não ser das melhores (45% dizem que às vezes falta dinheiro), o índice dos que admitem muita dificuldade financeira oscilou dentro da margem de erro.
Maioria aprova atuação de Lula no governo
No auge da crise que derrubou Antonio Palocci da Casa Civil, o ex-presidente Lula foi a Brasília para tentar estancar a primeira grande crise política do governo de sua sucessora, Dilma Rousseff.
Para 64% dos brasileiros, Lula deveria mesmo participar das decisões de Dilma. Quatro de cada cinco pessoas acreditam inclusive que o ex-presidente já esteja fazendo exatamente isso.
Segundo pesquisa Datafolha realizada na quinta e na sexta passadas, são os menos escolarizados no país os que mais defendem a participação de Lula nas decisões do governo -69% na faixa do ensino fundamental.
Esse quadro se inverte entre os brasileiros que têm ensino superior (45% acreditam que Lula deveria participar, ante 53% que dizem que não deveria) e entre os mais ricos (41% a 58%).
No Nordeste, região em que o ex-presidente mantinha suas mais altas taxas de popularidade, 71% afirmam que ele deveria participar, ante 27% que têm opinião oposta. No Sul, uma porção menor (54%) é favorável à intervenção de Lula no governo Dilma Rousseff.
A pesquisa revelou também que 60% dos brasileiros consideram que a crise provocada pelas notícias envolvendo o súbito enriquecimento do ex-ministro Palocci prejudicou o governo Dilma.
O ex-ministro da Casa Civil deixou o governo após se recusar a revelar quem foram os clientes de sua consultoria. Ele alegou que esses dados eram confidenciais.
Consultoria
Em entrevistas, Palocci também disse que nem a presidente Dilma sabia quem eram os clientes da Projeto.
Mas, na opinião da maioria dos brasileiros (57%), a presidente sabia o nome das empresas para quem o ex-ministro trabalhava. Mais homens (62%) do que mulheres (53%) acreditam nisso.
Entre os que estudaram até o ensino fundamental, há uma divisão: 49% acham que Dilma sabia, e 48%, que não sabia.
É uma realidade diferente da captada para os brasileiros com ensino superior, estrato no qual os que acham que a presidente tinha conhecimento dos negócios de seu ex-ministro são 74%.
Na estratificação por renda, a lógica é parecida: quanto maior o ganho mensal, maior a disposição em acreditar que Dilma tinha conhecimento dos nomes dos clientes do Palocci.
Assim, 56% daqueles que têm renda mensal de até cinco salários mínimos acreditam na versão de Palocci de que a presidente ignorava o nome de seus clientes.
No estrato a seguir, com renda de 5 a 10 mínimos por mês, 67% opinam que Dilma sabia, e entre o que ganham acima disso, 80% dizem o mesmo.
Análise: Cresce preocupação com crise política e economia, mas Dilma ainda tem lastro
É crescente a preocupação com as ameaças à estabilidade econômica, especialmente com a volta da inflação. Os brasileiros identificaram um desempenho titubeante do governo no caso Palocci, o que provocou desgaste na imagem de Dilma Rousseff.
Mas nada disso abalou o aval oferecido por eles à sucessora escolhida por Lula, que, por seu lado, recebe carta branca de 64% dos eleitores para participar das decisões do atual governo.
A recente pesquisa Datafolha, realizada após a queda de Palocci da Casa Civil, reflete também a repercussão do desfecho da crise.
Dilma tem o apoio de quase metade do eleitorado, sete pontos acima do obtido por Lula no mesmo período de seu primeiro mandato.
Mas só um terço aprova o desempenho da presidente na condução da crise e 60% acreditam que o episódio foi prejudicial ao governo.
Não se pode descartar, portanto, a hipótese de que algum abalo na popularidade de Dilma durante as semanas de turbulência pode ter sido revertido com as providências dos últimos dias.
Chama a atenção a inquietação com o cenário econômico atual. Acentuaram-se as tendências reveladas no levantamento de março, refletindo uma crescente percepção na piora da situação econômica pessoal e do país.
Desde o início do governo, há mais brasileiros preocupados com a perda do poder de compra, com a ameaça de crescimento do desemprego e, principalmente, com o aumento da inflação.
Algo em torno de 30 milhões de eleitores passaram, desde então, a compartilhar uma expectativa econômica pessimista. Por que, então, isso não abala a popularidade do governo?
Além do já citado aval concedido à "mulher de Lula", expressão que ecoa na base da pirâmide social, os ganhos econômicos dos últimos anos sobrepõem-se às ameaças pontuais de agora.
Hoje 21% afirmam que o rendimento mensal da família "é muito pouco, trazendo muitas dificuldades". É ainda uma parcela significativa da sociedade, mas muito menos numerosa do que em dezembro de 2002 (45%).
A herança do governo Lula dá a Dilma um lastro de confiança inabalado pelas ameaças econômicas nem tão concretas no cotidiano familiar. Mas os alertas e preocupações do eleitorado evidenciam-se nesta pesquisa.
* publicado na Folha de S.Paulo
(12.06.2011)
(...)
Segue o estudo do DataFolha:Opinião Pública - 13/06/2011
Popularidade do governo Dilma fica estável
Popularidade do governo Dilma fica estável
Saída de Palocci não arranha percepção sobre governo, mas atinge imagem pessoal da presidente
Metade dos brasileiros (49%) considera ótimo ou bom o governo de Dilma Rousseff (PT). Outros 38% o classificam de regular e 10% o chamam de ruim ou péssimo. Pesquisa nacional realizada pelo Datafolha nos dias 9 e 10 de junho mostra que a popularidade da administração petista junto aos brasileiros não sofreu alteração significativa nos últimos três meses. Em março deste ano, essas taxas correspondiam a 47%, 34% e 7%, respectivamente. O índice que mais sofreu alteração foi o dos que não sabem opinar – caiu de 12% para 3%. Foram ouvidas 2.188 pessoas em todas as unidades da Federação. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
Nos últimos três meses, a aprovação a Dilma cresceu especialmente entre os homens (cinco pontos percentuais), entre os mais velhos (quatro pontos), entre os que possuem renda familiar mensal superior a 10 salários mínimos (quatro pontos), entre os habitantes do Nordeste (quatro pontos) e Norte e Centro-Oeste (cinco pontos em cada). A reprovação subiu principalmente entre os que têm de 35 a 44 anos (cinco pontos), nível superior de escolaridade (seis pontos), os mais ricos (sete pontos) e os que moram na região Sudeste (cinco pontos).
A nota média atribuída pelos brasileiros à presidente da República nestes seis primeiros meses de governo é 6,8. Em março, era 6,9. No total, 13% dão a nota máxima (dez) ao desempenho de Dilma. A nota mínima (zero) é atribuída por 3% dos entrevistados. As maiores médias encontram-se entre os habitantes do Nordeste (7,3), entre os menos escolarizados (7,2) e entre os mais velhos (7,1). As menores estão entre os mais ricos (5,8) e os mais escolarizados (5,9).
A demissão do Ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, que aconteceu na última semana, pode não ter arranhado a opinião dos brasileiros sobre o governo petista, mas parece ter atingido alguns aspectos da imagem pessoal da presidente. O episódio, que começou com a revelação do enriquecimento súbito do ex-ministro e se arrastou por algumas semanas sem explicações totalmente claras sobre a origem dos recursos, pode ter influenciado a queda na percepção que a população tem da presidente no quesito “decisão”. Apesar da maioria julgar Dilma uma presidente decidida (62%), 34% a classificam de indecisa, taxa duas vezes maior à verificada em março deste ano. Na ocasião, 15% a chamavam de indecisa.
A presidente também sofreu prejuízo de imagem no aspecto inteligência. A taxa dos que a julgam muito inteligente caiu de 85% para 76% e a dos que a chamam de pouco inteligente subiu de 9% para 20%. No quesito sinceridade, não são observadas mudanças significativas – o índice dos que a consideram sincera oscilou negativamente de 65% para 62% e a dos que a julgam falsa foi de 17% para 22%. Em outro item, o resultado pode ser considerado até positivo. A taxa dos que acham Dilma democrática subiu de 44% para 52%, enquanto a dos que a vêem autoritária foi de 44% para 41%.
Cresce pessimismo dos brasileiros em relação à economia
Pioram as expectativas sobre inflação, desemprego e poder de compra
A taxa de brasileiros que acredita em aumento da inflação daqui para frente subiu dez pontos percentuais nos últimos três meses. Em março, correspondia a 41% dos entrevistados e agora chega a 51%. O patamar é equivalente aos dados registrados no final de 2008 e início de 2009, em meio ao noticiário da crise econômica mundial (48% de pessimismo). O índice dos que apostam na estabilidade da inflação é de 31% - era 42% em março. Outros 12% acham que a inflação vai diminuir – eram 13% na pesquisa anterior.
Quanto ao desemprego, as opiniões se dividem – 32% acham que vai aumentar, 31% que vai diminuir e 33% apostam na manutenção das taxas atuais. No levantamento feito há três meses, esses percentuais correspondiam a 27% 39% e 31%, respectivamente. Em relação ao poder de compra dos salários, também nota-se maior equilíbrio na percepção da população. Em março, a maior parte (43%) apostava no aumento do poder de compra contra 18% que achavam que ele diminuiria. Hoje, essas taxas são de 33% e 25%, respectivamente.
A análise conjunta desses resultados explica o crescimento do pessimismo sobre a economia do país. Apesar da maior parte dos brasileiros achar que a economia vai melhorar (42%) ou ficar como está (37%) nos próximos meses, o índice dos que apostam em dias piores subiu de 9% para 17% nos últimos três meses. A taxa de otimistas caiu oito pontos percentuais (de 50% para 42%).
Um indício do porquê esse pessimismo ainda não atingiu a popularidade do governo pode estar no fato de que ele não se mostra tão intenso na rotina do entrevistado. Apesar da avaliação do poder aquisitivo da família não ser dos melhores (45% dizem que às vezes falta dinheiro), o índice dos que admitem muita dificuldade financeira oscilou dentro da margem de erro em um patamar bem abaixo de seu teto histórico (21% atualmente contra 46% em setembro de 1999, após a desvalorização do Real). Prova disso é que a taxa dos que se mostram pessimistas em relação à situação econômica pessoal passou de 7% para 10%, enquanto a taxa dos que acham que ela deve se manter subiu de 28% para 34%.
Para maioria (60%), crise envolvendo Palocci prejudica governo Dilma
68% tomaram conhecimento da saída de ministro do governo
A saída do ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci do governo Dilma chegou ao conhecimento de 68% dos brasileiros, sendo que 34% disseram estar mais ou menos informados sobre o assunto, e 19%, bem informados. Há ainda uma parcela de 15% que tomou conhecimento mas diz estar mal informado. Mais homens (74%) do que mulheres (63%) souberam da queda do petista após as notícias sobre seu enriquecimento com serviços de consultoria particular durante os quatro anos em que foi deputado federal.
Os jovens (57%) também têm um índice de conhecimento sobre o assunto abaixo da média nacional, equiparando-se assim ao estrato dos menos escolarizados (59%). Aqueles que têm de 45 a 59 anos, por outro lado, têm um conhecimento maior sobre a saída de Palocci: 76%. É um índice igual ao verificado entre os mais velhos, acima de 60 anos. Na fatia dos que estudaram até o ensino superior, 93% estão informados, ainda que mal, sobre o assunto.
Entre os mais ricos, que têm renda mensal familiar acima de 10 salários mínimos ao mês, esse índice vai a 90%, e a 84% no caso daqueles que obtêm entre 5 e 10 mínimos ao mês. Na estratificação geográfica, encontra-se no Sul (74%) a maior proporção de pessoas que tomaram conhecimento da saída do petista, ante 64% no Nordeste. Quem avalia o governo Dilma Rousseff como ruim ou péssimo também está mais informado sobre o assunto do que quem o avalia como bom ou ótimo (74% a 66%, respectivamente).
O ex-ministro da Casa Civil deixou o governo após se recusar a revelar quem foram os clientes de sua consultoria, alegando que esses dados eram confidenciais. Ele também disse que nem a presidente Dilma Rousseff sabia quem eram esses clientes. Na opinião da maioria dos brasileiros (57%), porém, a presidente sabia o nome das empresas para quem Palocci trabalhava. Mais homens (62%) do que mulheres (53%) compartilham dessa opinião. Entre aqueles que estudaram até o ensino fundamental, há uma divisão: 49% acham que Dilma sabia, e 48%, que não sabia.
É uma realidade diferente da captada para os brasileiros com ensino superior, estrato no qual os que acham que a presidente tinha conhecimento dos negócios de seu ex-ministro são 74%. Na estratificação por renda, a lógica é parecida: quanto maior o ganho mensal, maior a disposição em acreditar que Dilma tinha conhecimento dos nomes dos clientes do Palocci. Assim, 56% daqueles que têm renda mensal de até cinco salários mínimos acreditam na versão de Palocci de que a presidente ignorava o nome de seus clientes.
No estrato a seguir, com renda de 5 a 10 mínimos por mês, 67% opinam que Dilma sabia, e entre o que ganham acima disso, 80% dizem o mesmo. No Nordeste, repete-se a divisão: 48% acreditam na versão do ex-ministro, e 51% dizem que Dilma sabia. Quanto pior a avaliação feita do governo de Dilma Rousseff, maior a tendência em acreditar que ela tinha conhecimento dos nomes para quem Palocci prestava consultoria. Compartilham dessa versão, por exemplo, 79% dos que dizem que seu governo é ruim ou péssimo. Na estratificação por conhecimento do assunto, apenas entre quem não tomou conhecimento da queda a taxa dos que crêem que a presidente nada sabia fica abaixo da média (37%). Para os mal informados, o índice vai a 55%, subindo para 68% entre os mais ou menos informados e atingindo 74% entre os bem informados.
Para a maioria da população (60%), a crise provocada pelas notícias envolvendo o ex-ministro Antonio Palocci prejudicou o governo da presidente Dilma Rousseff, enquanto 23% acreditam que não prejudicou. Uma parcela de 17% não soube responder a essa questão. A fatia que acredita que a crise foi prejudicial se divide entre 25% que acreditam que prejudicou muito e 35% que acreditam que prejudicou um pouco. A proporção de homens que acredita que o governo saiu prejudicado é maior do que de mulheres (65% a 56%).
Na faixa de idade acima de 60 anos, a taxa dos que não vêem prejuízo a Dilma é proporcionalmente menor (53%), mas sobe o número dos que não sabem responder (21%). O mesmo acontece com aqueles que têm ensino fundamental (51% não vêem prejuízo, mas 24% não sabem responder). No grupo que estudou até o ensino superior, acontece o contrário: 77% dizem que a crise prejudicou a gestão de Dilma Rousseff, e apenas 3% não souberam responder. Entre aqueles que tomaram conhecimento da queda de Palocci, 71% apontam que houve prejuízo ao governo no episódio, índice que cai à metade entre quem não tomou conhecimento (38%).
O desempenho da presidente Dilma Rousseff durante a crise política provocada pelas notícias envolvendo seu ministro da Casa Civil dividiu os brasileiros. Um terço (33%) avalia que seu desempenho foi bom, fatia similar (36%) à que considera que Dilma foi regular. Para 17%, o desempenho da presidente foi ruim ou péssimo. Mais uma vez, brasileiros que estudaram até o ensino fundamental discordam da fatia que completou o ensino superior: entre os menos escolarizados, 36% consideram boa ou ótima a atuação de Dilma, ante 30% entre os que estudaram por mais anos. Nesse caso, porém, a diferença entre os índices de avaliação é menor, próximos do intervalo da margem de erro. Entre aqueles que obtêm renda familiar mensal superior a 10 salários mínimos, 24% avaliam o desempenho de Dilma como bom ou ótimo. A taxa de ruim ou péssimo, para esse estrato, vai a 31%, próxima à daqueles que ganham de 5 a 10 mínimos (28%).
Participação de Lula em decisões de Dilma tem o apoio de 64%
77% acreditam que Lula já participa do governo de Dilma
Para quatro de cada cinco brasileiros (77%), o ex-presidente Lula participa das decisões do governo de sua sucessora, Dilma Rousseff. Uma parcela de 19% avalia que Lula não tem participação, e 4% não souberam responder. No Sul, a fatia dos que dizem que o ex-presidente tem participação no governo da petista alcança 82%, mesmo índice próximo ao daqueles que têm renda de mais de 10 salários mínimos (83%).
A participação de Lula na gestão de sua sucessora, porém, não é visto de forma negativa. Pelo contrário, 64% dizem acreditar que ele deveria participar das decisões da gestão de Dilma Rousseff, ante 34% que dizem que não deveria. A taxa dos que não souberam responder sobre o assunto é de 2%. Entre os mais velhos, cai o apoio à participação de Lula (57%).
No grupo de pessoas que estudou até o ensino fundamental, a participação do ex-presidente no governo Dilma tem apoio ainda maior (69%, ante 27% que dizem o contrário). Esse quadro se inverte entre aqueles com ensino superior (45% acreditam que Lula deveria participar, ante 53% que dizem que não deveria) e entre os mais ricos (41% a 58%).
No Nordeste, região em que o ex-presidente mantinha suas mais altas taxas de popularidade, 71% afirmam que ele deveria participar, ante 27% que têm opinião oposta. No Sul, uma porção menor (54%) é favorável à intervenção de Lula no governo Dilma. Entre aqueles que obtêm renda familiar 5 a 10 salários mínimos, 49% dão apoio à participação do ex-presidente, enquanto 51% são contrários a essa atitude.
via DataFolha/Opinião Pública
São Paulo, 10 de junho de 2011
Análise sobre a pesquisa:
via Folha TV
Dilma e "Paloccinhos"
Além do rápido e não explicado enriquecimento de Antonio Palocci, a primeira crise de Dilma explicitou a cobiça sórdida da chamada "base aliada".
A começar por gente do próprio PT se engalfinhando por espaços. No PMDB, mais do mesmo.
O que essa "base" procura, como sempre, é posicionar lideranças e comparsas na máquina pública. Assim, podem se multiplicar e colher os frutos, hoje e amanhã, do tráfico de influência.
Até prova em contrário, a presidente Dilma parece ser correta, de fora da politicagem que dilapida o dinheiro público.
Palavras do tucano e ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira a Dilma há poucos dias, em artigo na Folha, onde pedia a demissão de Palocci:
"A senhora deixou claro em sua vida pública o compromisso com o bem público; porque não escolheu a vida política para ficar rica ou para gozar o poder em nome do próprio poder, mas para contribuir para a construção de um Brasil mais próspero, mais democrático e menos injusto".
Dilma substituiu Palocci por Gleisi Hoffmann na Casa Civil. Como senadora, Gleisi apresentou vários projetos para acabar com privilégios no Congresso e na máquina federal. Entre eles, a proibição de benefícios vitalícios, fim dos 14º e 15º salários a parlamentares e a regulamentação de um teto para os rendimentos dos servidores públicos.
Mas Dilma também escolheu Ideli Salvatti para coordenar a política (Relações Institucionais). Em seu currículo, a defesa dos acusados no mensalão, do PT nas CPIs dos Bingos e dos Cartões Corporativos e de Renan Calheiros e José Sarney em escândalos que quase lhes custaram os mandatos.
Dilma também fez fortes elogios na saída de Palocci. Como punição, o ex-ministro agora vai emagrecer, viajar e voltar à consultoria.
Assim como Lula, Dilma trabalha pela "governabilidade" ao acomodar os interessados na máquina pública, origem e destino de muitos candidatos a Palocci.
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A última pesquisa Datafolha mostrou estabilidade na popularidade de Dilma: 49% a apoiam, apesar de Palocci e da inflação.Há duas variações a considerar: queda de 17 pontos entre os que consideram Dilma "decidida" e salto de 10 entre os que veem a inflação como ameaça.
A inflação pega em cheio os mais pobres, maioria no Brasil. O mau humor deles cresceu bem mais do que a média.
publicado na Coluna do Fernando Canzian
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