Leio em O Público:
Um dia após os brutais ataques de ontem na Noruega, de que resultaram 91 mortos, permanecem ainda em mistério os motivos do suspeito autor detido pela polícia, mas os primeiros dados estão a revelar tratar-se de um “fundamentalista cristão”, adepto da caça e dos jogos de vídeo, com ligações à extrema-direita e ideologia anti-muçulmana. (...) Um responsável da polícia de Oslo, Roger Andresen, citado pela agência noticiosa AFP precisou que o suspeito demonstra opiniões políticas que “pendem à direita”.
e continuo a ler:
Os serviços de segurança internos noruegueses receavam um ataque de radicais islamistas no seu território mas não ponderava a possibilidade de a extrema-direita no país constituir uma “ameaça séria”, de acordo com um relatório oficial elaborado ainda no início deste ano. (...) Tal avaliação contrasta dramaticamente com o resultados dos ataques de ontem – em Oslo e na pequena ilha de Utoeya, nas proximidades da capital norueguesa – em que um total de 91 pessoas morreram no que se crê terá sido responsabilidade de Anders Behring Breivik, cidadão norueguês, descrito como um “fundamentalista conservador cristão”, com ligações à extrema-direita e “anti-islamista” de 32 anos, e o qual se encontra detido e sob interrogatório.
Este homem alto, loiro, de olhos azuis e pele branca tem pouco de muçulmano. Chama-se Anders Behring Breivik. É um cidadão norueguês e não pertence à Al-Qaeda. Em menos de 24 horas, após o massacre na Noruega, passou de suspeito a autor confesso das 93 mortes causadas.
Antes disso, porém, já vários media tinham 'investigado' o crime por conta própria, descoberto e publicado algo semelhante ao que ilustram os dois exemplos seguintes:
imagem via Câmara Corporativa
Sempre o disse, a fobia da manchete, a voracidade de dar a notícia, a cegueira de pretender fornecer em primeiro lugar e de modo absoluto a chave exacta de interpretação do mundo é, quase sempre, o maior inimigo dos jornalistas e da informação por eles produzida. Vomitar não é investigar. Existe um tempo natural que assiste aos próprios acontecimentos e ao seu desenvolvimento e que a tirania dos media jamais conseguirá alterar. Existe um tempo de ponderação e avaliação que nem os incontornáveis horários das rotativas ou dos telejornais podem impor, por mais que queiram e tentem. Teimar em fazê-lo é quase sempre meio caminho andado para prestarem um mau serviço, uma péssima informação e venderem um jornalismo de que bem se podem arrepender e envergonhar depois.
Não há meio desta gente perceber que velocidade não é sinónimo de qualidade, que precipitação não é expressão de perspicácia e muito menos que dizer ou escrever primeiro jamais será garante de informar mais e melhor.
De quebra, e a propósito deste 'gato-por-lebre' remeto para o post da Palmira F. Silva, ontem no Jugular. Está lá tudo. Até mesmo - e sobretudo - as gravíssimas implicações desta concepção de jornalismo, que vão muito, muito além de um 'simples' e 'mero' mau serviço prestado.
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