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Moacir, 'o artista da Chapada'

Posted: 25 de jul. de 2011 | Publicada por por AMC | Etiquetas: , , ,

Este é o cartaz da edição deste ano do XI Encontro de Culturas. Volta a ter a assinatura de Moacir, o  visionário de São Jorge, também conhecido como 'o artista da Chapada', um homem singular que vale a pena conhecer, pelo que deixo a entrevista que Sinvaline Pinheiro lhe fez em 2009.


Arte bruta? Foi a definição do cineasta Walter Carvalho sobre Moacir, o artista de São Jorge que começou a pintar aos 7 anos de idade usando carvão e caixas de papelão.
Arredio, Moacir fugia das pessoas e com o desenvolvimento da Vila de São Jorge ele se abriu mais e, hoje, até concede entrevistas, fazendo questão de mostrar as centenas de figuras criadas no seu dia a dia. Sua pintura é a óleo, giz de cera , lápis de cor e tinta para tecidos.
A identidade visual dos nove Encontros de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros é obra desse artista enigmático. Sem nenhuma sugestão, até porque não aceita, ele produz a seu modo a ilustração do evento.
Moacir mora com a mãe, dona Maria Odúlia Apolinário de Jesus, que vigia seus passos e sempre o corrige quendo Moacir diz algo que não a agrada. Quando ele diz que não acredita em Deus, por exemplo, ela corrige rápido:
- Acridita sim, ele acridita!
Moacir apenas sorri, mas não confirma que acredita.
A mãe conta como o filho iniciou os desenhos:
- Ele cumeçou minininho, aos 7 anos de idade, eu gostava muito do que ele fazia, mas cuma aqui num tinha nem istrada pra comprar material, entonse ele pintava nas caixa de papelão cum carvão..
Dona Maria acredita ser  um dom de Deus, um segredo que não se pode entender:
- É  segredo num podi fica falando, Deus deu tem que fica com ele...
A arte do Moacir retrata diabos e mulheres nuas misturando facas, pássaros e flores. Quando pequeno, ele só pintava em um quarto escuro. Atualmente já trabalha  na claridade e as paredes e muros de sua casa se tornaram uma grande tela de diabos, anjos e mulheres.
Moacir também fez muitas esculturas em argila, todas vendidas, mas pela falta de material, ele já não as faz mais.
Moacir não gosta de viajar ou mesmo de sair de casa. Se sente responsável pelos trabalhos domésticos. Ele reclama que a mãe reza muito e quando pergunto se reza também, ele esconde o rosto e diz sorridente:
- Num gosto de reza, num adianta nada, num tenho religião, isso é bobage...
Sobre Deus e o Diabo:
- Sei que tem Deus porque ele aparece pra mim, é branco como o papel e fala , fala mas eu num entendo. O Diabo também aparece, ele é bonzim, desde pequeno ele vem fala comigo, mas ele é branco tipo fumaça.
As visões que Moacir tem desde pequeno justificam sua arte, segundo ele:
- Eles aparece e disaparece, pode ser de dia e de noite, puxa minha camisa, num iscuto o que eles quer falar, num tenho medo, ai rabisco elis!
Não aprendeu a ler e desenha o nome, diz que o povo de São Jorge não sabe ensinar e me mostra com orgulho como aprendeu fazer o A B C.
Sobre seus quadros ele não quer falar, apenas sorri e esconde o rosto. Moacir tem muita dificuldade para ouvir e falar, e teve uma infância difícil conforme conta seu pai, sr. Domingos:
- Esse menino é um artista! Eu num dô conta de fazê o que ele faiz!
E continua:
- Foi muito bão isso pra ele, pois sufria muito sem escutá direito andava sozim nos lugar ermo cheio de onça, garimpando miçanguinha pra vender, hoje ele é riconhecido.
Vários pesquisadores, turistas e curiosos visitam o ateliê improvisado do artista, porém todos saem sem ter respostas sobre o enigma que envolve Moacir e sua arte.

Moacir no seu atelier improvisado

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