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Documentário "Parente" concorre à ‘Melhor Curta-Metragem Amazonas’

Posted: 6 de nov. de 2011 | Publicada por por AMC | Etiquetas: , ,


Em tempos de altos índices de HIV e sífilis entre indígenas, um cineasta e uma pesquisadora tiveram a ideia de transpor para as telas do cinema os sentimentos dos habitantes da floresta. O curta-metragem “Parente”, dirigido por Aldemar Matias e idealizado por Adele Benzakem, é uma das produções amazonenses selecionadas para concorrer no 8º Amazonas Film Festival. O evento internacional começa hoje (3) e vai até o próximo dia 9 de novembro, em Manaus.
As gravações do documentário duraram cerca de um ano. A ideia de “Parente” começou com o projeto da pesquisadora Adele Benzakem. O diretor conta que a intenção era documentar os testes rápidos de HIV e sífilis em duas etnias: Ticuna, situada na aldeia “Belém do Solimões”, em Tabatinga (AM) e Yanomami, localizada “Pixanahabi”, em Alto Alegre (RR). “Os indígenas participavam da palestra educativa, faziam o teste com resultado de 15 minutos e em seguida recebiam o aconselhamento individual”.


Aldemar Matias relata que desprovidos de qualquer vergonha ou tabus, os personagens escolhidos sentaram de frente para a câmera. Sem reservas falaram sobre os novos conhecimentos: como deveriam se proteger para evitar doenças. “Os contrastes se estenderam à escolha dos personagens. Na ocasião, foram entrevistados idosos, jovens, homossexuais, heterossexuais, casados e solteiros”.


Em 20 minutos de vídeo, os Ticuna e Yanomami mostram como são vulneráveis em relação às doenças sexualmente transmissíveis. “Há um desconhecimento quanto a essa exposição. Foi o primeiro contato que eles tiveram com os testes, por exemplo”, disse o diretor. No entanto, ao contrário do que se pensava, a equipe do doc deparou com a conscientização e aceitação dos índios em relação aos métodos preventivos e ao tratamento.


Entre os detalhes de bastidores, o maior desafio foi conversar com os Yanomami. “Eles não falam português e nem nós falávamos Yanomami. Apenas uma auxiliar de saúde falava a língua deles e ela acabou virando nossa intérprete”, contou o diretor.
“Parente” é um termo comum entre as etnias entrevistadas no Curta e simboliza a questão das relações humanas. Por isso, o termo foi escolhido para dar nome ao documentário que concorre na categoria ‘Melhor Curta-Metragem Amazonas’ do 8º Amazonas Film Festival. O filme será exibido no sábado (5), às 17h15, no Teatro Amazonas.

Entrevista com Aldemar Matias, diretor do curta-metragem “Parente”


Quais foram as maiores dificuldades que você enfrentou na hora das gravações?
Mudar o roteiro a todo instante. Foram MUITOS imprevistos acontecendo de hora em hora – de barco quebrado a vila israelita peruana encontrada no caminho por acaso.

Como surgiu a parceria com a pesquisadora Adele Benzaken?
O administrador do projeto Carlos Carvalho conhecia o trabalho do produtor executivo do filme Marcos Tupinambá. Marcos então me chamou pra direção e desde o início a sintonia foi muito boa.

‘Parente’ é um dos favoritos da categoria ‘melhor curta-metragem Amazonas’ como você está encarando isso?
(risos) Eu não estou encarando isso, não! Tô ouvindo essa história de favorito pela 1a vez. Falando sério, cabeça de jurado de festival de cinema é totalmente imprevisível. Os fatores são muito subjetivos. Eu sei que estou orgulhoso do resultado final da obra. E esse é o meu prêmio. A pior coisa é terminar um filme com o sentimento de missão não cumprida.

É a primeira vez que ‘Parente’ está concorrendo em um festival? Ele concorrerá a outros? No que ele difere em relação às suas outras produções cinematográficas?
Fiz apenas dois curtas antes desse e com pouquíssima noção do que era o ofício de fazer cinema. “Parente” foi produzido com mais maturidade, com escolhas conscientes e embasadas, e com uma equipe bem profissional. Esse é o 1o festival de Parente e logo, logo quero inscrevê-lo em outros.

Quais os seus favoritos, para qual filme você está torcendo na edição do Amazonas Film Festival?
Ainda não assisti nenhum. Essa eu respondo na quarta-feira!

Nenhum longa amazonense está concorrendo no Festival… O que você acha disso e o que está faltando para o cineasta do Amazonas produzir grandes filmes?
A maturidade de um mercado precisa passar por um processo. Os curtas amazonenses têm melhorado. A tendência é que esses bons curtas-metragens sirvam de argumento para implementação de leis de incentivo estaduais para financiar a produção de médias e longas. Acho que o poder público tem sim a obrigação de abrir caminhos, mas os realizadores precisam mostrar que há uma demanda, mostrar que querem produzir. O aprendizado acadêmico também é muito importante. Na abertura do Festival foi anunciada a criação da faculdade de cinema. Isso é sensacional e tem que ser tocado pra frente.

[ACTUALIZAÇÃO]


Vencedor do AFF: documentário "Parente" - os segredos da produção 
Os três troféus conquistados pelo documentário ‘Parente’ no Amazonas Film Festival são frutos de um ano de dedicação e persistência. Quem garante é a idealizadora da obra Adele Benzaken.
“Primeiro, tive a ideia do projeto, ainda em 2008, e o apresentei à Fundação Bill e Melinda Gates. A aprovação só veio porque cumprimos a exigência de que o objetivo era mudar políticas públicas voltadas para a saúde indígena”, relembrou Adele.
A proposta era levar até comunidades indígenas oficialmente registradas testes rápidos de HIV e  sífilis. “Para combater a mortalidade infantil”, acrescentou Adele.
Mais tarde, a fundação norte-americana propôs a ampliação do financiamento, mas por meio de outras atividades. “Foi quando tive a ideia do documentário. Minha intenção era mostrar o esforço que esses profissionais de saúde fazem ao levar esse serviço à população”, explicou. Veio então o contato com Aldemar Matias Jr. (diretor) e Marcos Tupinambá (produtor).
As comunidades indígenas visitadas foram os Ianomâmis (Alto Alegre - RR) e os Tikuna (Tabatinga - AM).
Para a concepção do documentário, a equipe levou 11 meses (outubro 2010 / setembro 2011), intercalados por longas pausas. “Tivemos muitos entraves burocráticos pelo caminho, mas o resultado foi maravilhoso”, exaltou.

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