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Diagnóstico revela alto índice de sífilis entre populações indígenas do Amazonas

Posted: 24 de mai. de 2011 | Publicada por por AMC | Etiquetas:

Adele Benzaken, coordenadora da pesquisa

A alta ocorrência de sífilis entre as populações indígenas do Amazonas, inclusive nas comunidades mais remotas, foi identificada durante pesquisa inédita coordenada pela Fundação Alfredo da Mata.
O resultado da pesquisa foi apresentado nesta terça-feira (24), durante evento promovido pela Fuam.
De uma população de 45 mil pessoas testadas desde 2009, 655 foram identificadas como portadoras da doença, chegando a um percentual de 1.43% do total da população diagnosticada.
Uma preocupação específica é destinada às mulheres e o contágio da sífilis congênitca, que pode provocar abortos, malformação do feto decorrente da doença e até mesmo mortalidade da criança.
As áreas onde a sífilis apresentou maior prevalência foram na região do Alto Solimões e do Vale do Javari, localizadas na região da Tríplice Fronteira, situação de facilita o contato com não-indígenas, segundo dados da pesquisa.
Fatores externos e internos foram apontados como causadores desta vulnerabilidade indígena. Entre os externos estão ocupação ilegal de não indígenas, turismo, missões religiosas e forças armadas.
Os fatores internos são desconhecimento sobre DST/Aids, uso de álcool, presença de comunidades indígenas em centro urbanos, migrações, restrições de uso de preservativo e festividades com presença de não indígenas.


Continuidade

Conforme Adele Benzaken, coordenadora da pesquisa, a constatação da sífilis (e também HIV) entre indígenas reforça a necessidade de implantar a cobertura do tratamento da doença por parte do Sistema Único de Saúde, por meio da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e de se aplicar o teste rápido nos mesmos moldes do diagnóstico realizado pela Fuam.
Financiado com recursos da Fundação Bill e Melinda Gates, o diagnóstico realizado em campo, junto aos indígenas, dentro de suas comunidades, foi possível graças à tecnologia de testes rápidos executados por funcionários da Sesai (na época, vinculados à Fundação Nacional de Saúde (Funasa), que receberam capacitação na Fuam para realizar a atividade
Junto aos testes, os doentes receberam o tratamento único, com dose de penicilina.
"O que fizemos foi criar uma linha de base no Amazonas e em Roraima. Não tinha nada e agora a gente sabe que tem (casos de sífilis), onde tem e qual a região com mais alta prevalência. A taxa de sífilis foi alta, de HIV foi baixa, mas onde tem sífilis, o HIV vai atrás. É uma questão de tempo", explica.

Logística

A bioquímica farmacêutica Larissa Lizandra Miguel, do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) do Vale do Javari, região considerada vulnerável, afirmou que uma das maiores dificuldades de realizar o diagnóstico é a logística, o difícil acesso e a alta rotatividade dos profissionais.
No caso do Vale do Javari, o diagnóstico apontou que a maioria dos portadores da sífilis é do sexo masculino. Segundo Lizandra, eles são contaminados no contato quando saem das aldeias e, no retorno, transmitem para suas aldeias.

Expansão

Hiojuma Monteiro, da coordenação de atenção primária da Sesai e representante do órgão, Antônio Alves, cuja presença no evento em Manaus foi cancelada, disse que já existe projeto de implantar o mesmo modelo da Fuam em outras áreas indígenas do país.
Ela disse que a Sesai também vai prosseguir com as ações da Fuam, incorporando os testes rápidos e o tratamento entre os indígenas.
"A gente já implantou nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei) em Tocantins e no Amapá os testes rápidos. Vamos realizar capacitação para formar multiplicador em outras partes do país. Essa metodologia de teste possibilita um retorno do resultado e a gente tem condições de dar logo o tratamento", disse Hiojuma.

Mortalidade

As doenças sexualmente transmissíveis (DST) estão entre as principais causas da mortalidade entre os indígenas do Alto Rio Negro, no Amazonas, segundo dados do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) apresentados nesta terça-feira (24), durante o evento.
Áreas onde circulam batalhões de fronteira do Exército estão entre que apresentam maior prevalência. Segundo Francisco Vieira Neto, coordenador técnico do Dsei/Alto Rio Negro, há registros de casos extraconjugais e soldados e mulheres indígenas, mas também relacionamentos entre homossexuais indígenas e não-indígenas.
Ele afirmou que este é um tema ainda controverso entre as famílias indígenas e exige uma abordagem diferenciada para tratar do assunto entre as famílias.
A região do Alto Rio Negro não apresentou um índice elevado de sífilis (foram 23 casos entre 7 mil pesquisados), mas este quatro não reflete a totalidade do universo previsto para ser diagnosticado.
Problemas logísticos, especialmente a falta de motores de popa para viabilizar o acesso das equipes da Sesai até as comunidades, impediram a continuidade do teste rápido nas comunidades indígenas.
Francisco disse que o Dsei/Rio Negro espera que, no momento em que a Sesai adotar o teste o modelo do teste rápido, o diagnóstico prossiga.
O Alto Rio Negro, assim como outras áreas indígenas, sofre com falta de profissionais, sobretudo médicos. Há dois anos não existe nenhum médico que atue nas aldeias, segundo Francisco, o que obriga que os enfermeiros realizem o atendimento de saúde.

publicado no jornal A Crítica

[Actualização]

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