O 'frou' do momento é esta conversa entre o português Gaspar e o alemão Schauble. Para quem lê o Conexão fora de Portugal e não segue de perto os meandros do novelo europeu, segue o resumo do capítulo de ontem à noite.
No vídeo, Gaspar agradece a vontade alemã para flexibilizar a ajuda. Instado a comentar as imagens divulgadas pela TVI, o ministro das Finanças voltou a insistir na tecla do costume e rejeitou um ajustamento do programa de resgate. Negou contradições: Schäuble limitou-se a reiterar o que a Europa sempre prometeu, isto é, continuar a ajudar Portugal caso, por razões exteriores, não consiga voltar a financiar-se nos mercados mesmo cumprindo o acordo com a troika. «O que o ministro das finanças alemão fez, na minha interpretação, foi dar a Portugal uma manifestação de simpatia e de apreço pelo sucesso dos esforços que Portugal tem realizado no cumprimento do seu programa de ajustamento», explicou Gaspar.
Reacções na oposição: BE e PCP acusam Governo de “fingir” recusa para flexibilizar ajuda e PS quer explicações sobre conversas “às escondidas”. Reacção do partido do Governo: PSD diz não compreender polémica.
Os jornais alemães referem-se abundantemente ao caso, mas do lado do Governo de Merkel ninguém comenta.
Alemanha ameaça jornalistas
Pressionados pelo Governo alemão, os serviços de imprensa do Conselho de Ministros da União Europeia estão a ponderar modificar as regras de recolha de imagens das reuniões ministeriais.
A mesma entidade considera ainda a aplicação de sanções aos jornalistas envolvidos na captação e divulgação pela TVI das imagens de uma conversa entre Vítor Gaspar e o alemão Wolfgang Schäuble, na reunião dos ministros das Finanças dos países da União Europeia da última quinta-feira .
O Expresso sabe que o ministro alemão ficou furioso com a divulgação do vídeo e que no próprio dia terá exigido que a recolha daquele tipo de imagens passe a ser proibida. Fonte do Governo alemão disse ao Expresso que "gravar secretamente o conteúdo de uma conversa privada" é, além de "escandaloso", "uma séria violação dos padrões jornalísticos".
A classificação da gravação como "secreta" esbarra no facto de a conversa ter sido feita com uma câmara de televisão que pesa mais de dez quilos, equipada com um microfone que grava o som ambiente e que estava a ser operada por um jornalista que se encontrava a um metro de distância de ambos os interlocutores.
Regras estão escondidas
Vítor Gaspar teve uma reação mais fleumática. Apesar de considerar que se tratou de uma "conversa privada que não deveria ter sido registada, nem difundida", o ministro português reconheceu que se trata de uma "questão de legítimo interesse público em Portugal e também na área do euro", pelo que não se esquivou a prestar "um esclarecimento".
No entanto, os regulamentos do centro de imprensa do Conselho de Ministros da União Europeia são bem claros. Numa folha de papel discretamente afixada numa parede da sala de imprensa, escondida atrás de uma planta, explicam-se as 13 regras gerais em aplicação. O ponto número 6 diz respeito às gravações dos chamados tours de table, os momentos em que os ministros já se encontram na sala de reuniões e em que conversam informalmente entre si.
Reza o referido ponto que os jornalistas que efetuam a gravação dessas ocasiões devem garantir que as câmaras captam "apenas o som ambiente (e não as conversas)". E explicita igualmente que, caso, apesar disso, as conversas sejam gravadas, as mesmas "não devem ser usadas".
Uma discussão recorrente
Episódios desta natureza acontecem com frequência e, na mesma reunião, a televisão espanhola gravou e divulgou partes de uma conversa do seu ministro das Finanças em que este antecipava as linhas da reforma do mercado laboral que apenas seriam tornadas públicas no dia seguinte, sexta-feira.
Comentários feitos na mesma ocasião pela ministra austríaca ao seu homólogo grego foram captados por outra câmara e difundidos via Twitter por jornalistas de várias nacionalidades.
A questão do acesso dos jornalistas a estas reuniões e da divulgação do respetivo conteúdo é uma discussão recorrente, que surge sobretudo quando a divulgação das conversas em causa desagrada aos protagonistas que, noutras ocasiões, não deixam de fazer uso da presença das câmaras para transmitir imagens e mensagens às respetivas opiniões públicas. Em última análise, em causa estará sempre o interesse público das mesmas.
via Expresso
Cf. Podem os meios de comunicação social divulgar conversas privadas dos lideres políticos?
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