Leio no Público:
O Presidente da República; Cavaco Silva, escusou nesta terça-feira pronunciar-se sobre a possibilidade dos cortes nos subsídios de férias e de Natal serem permanentes e lembrou que o Governo já tomou “uma posição pública” sobre a matéria. (...) “Não é numa vinda ao cinema a título privado que eu vou pronunciar-me sobre uma matéria que, aliás, o próprio Governo tomou uma posição pública”, afirmou o Chefe de Estado, em declarações aos jornalistas à entrada da Cinemateca, onde decorre a antestreia do filme “Tabu”, do realizador Miguel Gomes [VÍDEO AQUI].
E desde quando a tomada e posição do Governo dispensa o presidente de se pronunciar?? Acaso não foi pelo seu punho que a medida foi promulgada? Acaso não têm os portugueses o direito de querer saber as suas razões para apoiar uma medida desta severidade, em tempos de tamanha gravidade?? Acaso não têm os portugueses o direito de quer perguntar-lhe com que lógica e coerência aprova uma medida desta violência se, como ele próprio alerta, «os portugueses não aguentam mais austeridade»?? Acaso não têm os portugueses o direito de pedir-lhe que preste contas e explique como pode um homem que se queixa de ter uma reforma que nem lhe chega para viver, concordar com o Governo e dar-lhe o seu aval para que castigue ainda mais quem já tão dificilmente sobrevive com o pouco que lhe resta??
Se os jornalistas são obrigados a ficar à coca para ver quando Cavaco sai da toca é porque ele pura e simplesmente se eclipsa. Na verdade nem nos lembramos que em Portugal existe um presidente, a não ser quando vem a público largar umas larachas de mau gosto, ou quando por sua mão mais uma desgraça nos cai em cima. Se os jornalistas não perdem a oportunidade de o 'importunar' numa ida ao cinema com a sua senhora é porque sabem que o primeiro-ministro dos «tabús», quando chegou a presidente ficou mudo de vez. Para o ouvir falar ao país é necessário esperar pelas efemérides oficiais do 25 de Abril e do 10 de Junho, ou ela mensagem de Natal e Ano Novo. Fora isso espera-se o mesmo silêncio sepulcral em relação a tudo e todos, ou quanto muito um post no Facebook.
Choca ouvir Cavaco atirar aos jornalistas, por cima do ombro, que 'compreende'a «preocupação dos portugueses», mas que está ali para ver um filme. Um outro filme, como se percebe. Bem diferente daquele a que os portugueses assistem há tanto tempo. Choca, mas miseravelmente já não espanta.
Cavaco já mostrou que tem estômago suficiente para ver Portugal a arder e os portugueses desesperados, assobiando para o lado como se não tivesse nada a ver com o assunto. Se não emigrou, hibernou. Não tuge, nem muge. Os 'dias do presidente' continuarão a ser como até aqui: a aproveitar o tempo que ainda tem no Palácio de Belém, com a sua Senhora e família, sem nada que se lhe ofereça dizer ou fazer, num país intervencionado pela troika, na primeira página dos jornais internacionais pelas razões mais alarmantes, numa displicência de quem não se digna sequer a perder muito tempo com o assunto. E, claro, a sair de vez em quando para ir ao cinema «a título privado». E talvez seja por isso que os jornalistas se agarram à oportunidade e lhe saltam ao caminho: para saber o que tem a dizer aos tantos e muitos que gostariam de saber quando poderão reclamar para si os mesmos momentos de tranquilidade. Mais que não seja, para recuperarem a liberdade de poder deitar contas à vida e decidir ir ao cinema sem que depois lhes falte o dinheiro para a farmácia.
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