Desolada com o que o nascer do Sol vai revelando de destruição no Chile.
Um pesar enorme ao olhar um país que conheço relativamente bem assim rachado, esventrado a partir do coração da terra por uma fúria de que só a Natureza conhece a verdadeira causa.
Que paradoxo este, de ver a mesma Natureza que ao longo de séculos tem conservado o país estranhamente imune à transmissão de doença e epidemias – protegido de um lado pela barreira formada pela altitude das cordilheiras e, por outro, pelo sopro limpo do oceano – trazê-lo tão irremediavelmente exposto à inconstância das fissuras que lhe dão chão.
E, enquanto vou pensando nestas coisas, fico de cá a tentar imaginar que será que se salvou dos lugares que gostava e conhecia, quais terão desaparecido para sempre, que é feito das pessoas que me habituei a encontrar sempre no mesmo lugar, a cada vez que lá voltava, se se salvaram, se não acordaram a tempo, se pelo menos ainda respiram contemplando nas ruas o mesmo cenário de dó que vou olhando daqui.
Observo os estragos em Santiago e sei que saindo da cidade tudo terá sido seguramente bem mais devastador. Não só por se avançar em direcção ao epicentro do terramoto, mas sobretudo porque quem andou pelo Chile sabe bem que as normas de construção anti-sísmica são uma miragem urbanística reservada à capital. Não vale nos 'acampamientos' ou localidades menores, por onde se espalha a maioria da população.
(...)
A semana passada o sobressalto vinha-me da Ilha da Madeira. Hoje vem-me do Chile.
Subitamente, cresce-me a estúpida impressão de que o Sábado passou a ser o dia de todas as tormentas. E desconheço o que fazer com ela.
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