Antes do Coliseu de Lisboa, marcado para 28 e 29 deste mês, os Deolinda fizeram o Coliseu do Porto. Como a bilheteira esgotou num ápice, deram concerto não apenas no dia 22, mas também ontem, dia 23.
Estes concertos acontecem quase um ano após a edição do segundo álbum Dois Selos e um Carimbo, que soma mais de 20 mil cópias vendidas. O álbum foi um dos mais vendidos em 2010 e liderou o Top Nacional durante 4 semanas. Além disso, figura nas listas de melhores do ano, tanto para os media nacionais, como para os estrangeiros, com o Sunday Times a incluí-lo na lista dos melhores álbuns de World Music de 2010.
Com a devida vénia ao Ecletismo Musical, fica o vídeo e a letra. Concordo com o que se lê no blog: quem esteve no Porto e assistiu (ler aqui) ao modo como o público reagiu ao inédito apresentado pela banda no encore, percebe que o novo tema dos Deolinda «se transformará rapidamente no "hino de uma geração"».
Sou da geração sem remuneração
e não me incomoda esta condição.
Que parva que eu sou!
Porque isto está mal e vai continuar,
já é uma sorte eu poder estagiar.
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.
Sou da geração ‘casinha dos pais’,
se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou
Filhos, maridos, estou sempre a adiar
e ainda me falta o carro pagar
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.
Sou da geração ‘vou queixar-me pra quê?’
Há alguém bem pior do que eu na TV.
Que parva que eu sou!
Sou da geração ‘eu já não posso mais!’
que esta situação dura há tempo demais
E parva não sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.
Como também escreve o Miguel Cadima:
A comunhão entre a banda e o público mostrava que aquelas eram as palavras de uma inteira geração. De uma geração que estudou mas que não tem perspectivas, de uma geração que anseia por estabilidade familiar mas que vive enredada na precariedade, de uma geração que já não tem grandes cartilhas ideológicas mas que não permanecerá para sempre no desânimo e na apatia.
Houve quem dissesse que renascera a canção de intervenção. Talvez. No fundo, ela verdadeiramente nunca morreu. (...) Mas o que ali aconteceu foi diferente: a insatisfação de uma parte considerável da sociedade tinha encontrado maneira de se dizer. E se isso também não é novo - há quanto tempo andamos a falar de precariado, de falsos recibos verdes, de geração bloqueada? - aquele momento trouxe alguma coisa que faltava: uma linguagem simples para falar de experiências comuns.
A política não se confunde com uma canção, mas os sentimentos de pertença colectiva constroem-se de várias maneiras. E o que os Deolinda fizeram foi dar voz a esse sentimento. De repente, a vida adiada de cada um e de cada uma tornou-se parte de um todo. O reconhecimento desse "mundo tão parvo em que para ser escravo é preciso estudar" exorcizou um pouco a realidade. Chega? Não chega. Mas naquela noite a impotência morreu um bocadinho mais.
Quem perdeu o show no Porto, ainda pode correr e tentar a sorte nas plateias do Coliseu de Lisboa. Entretanto, e no mesmo espírito, aqui fica mais um pouco de Deolinda.
Sobre a banda
Em 2008, editaram o seu disco de estreia “Canção ao Lado”, que se mantém há 121 semanas no top nacional de vendas e que inclui temas como Fon Fon Fon, Movimento Perpétuo Associativo, Fado Toninho e Clandestino.
No estrangeiro, foram aclamados pelo The Times, ABC e Sunday Times (que considerou Canção ao Lado o 3º melhor álbum de world music de 2009). Este ano, receberam o prestigiado e herdeiro dos famosos Prémios da BBC Radio, Songlines Music Award 2010 (Grupo Revelação) e editaram o seu segundo álbum “Dois selos e um carimbo”, de que fazem parte “Um contra o outro”, “A problemática colocação de um mastro” e “Passou por mim e sorriu”. No caminho do sucesso do primeiro álbum, “Dois selos e um carimbo” esteve quatro semanas a liderar a tabela de vendas nacional e tem-se mantido entre os mais vendidos desde a sua saída, em Abril, tendo ainda recebido elogios da crítica e do público.
Esgotaram ininterruptamente todos os auditórios por onde passaram nos últimos 2 anos, actuaram em míticas salas e importantes festivais de 20 países e, no momento, saboreiam uma nomeação para “Best Portuguese Act” dos MTV European Awards.
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