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Agenda ambiental do FSM dá destaque para Rio+20, em 2012

Diante da retomada – ainda que vacilante – da economia mundial após a fase mais aguda crise financeira, as organizações que trabalham com o tema ambiental começam a reforçar sua agenda de lutas e propostas para o próximo período. Um fator de aproximação deve ser a Rio+20, como é conhecida a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que acontecerá no Rio de Janeiro, em maio de 2012.
A Rio+20 marcará as duas décadas da ECO-92. A conferência discutirá a governança global na área do desenvolvimento sustentável, além de renovar o engajamento dos líderes mundiais para com o tema. Um grupo de ativistas e intelectuais bastante identificados com o encontro – entre eles Cândido Grzybowski, Susan George e Boaventura Sousa Santos – criou o Grupo de Reflexão e Apoio ao Processo Fórum Social Mundial (Grap) e tem realizado em Dacar uma série de seminários com o objetivo de começar a contruir uma "agenda de transformação social", na qual a Rio+20 deve estar incluída.
O Grap integra o Comitê Facilitador da Sociedade Civil Brasileira para a Rio+20, ao lado da Associação Brasileira de ONGs (Abong), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Fórum Brasileiro de Economia Solidária, Fórum Brasileiros de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (FBoms), Rede Brasileira para Integração dos Povos (Rebrip) e Rede Brasileira sobre Instituições Financeiras Multilaterais (Rebrip).
Informações sobre formas de participação podem ser obtidas na página rio2012.

Lavagem do capital

Nesse processo, um dos desafios será distinguir iniciativas ambientalmente sustentáveis daquelas fundadas apenas em estratégias de marketing das corporações. "Há o risco de a chamada economia verde lavar o capitalismo", ponderou Grzybowski, do Grap, em uma das mesas de debate do Fórum, nesta terça-feira (8).
Na mesma linha, o ativista Blessing Karumbidza, pesquisador do Instituto para os Direitos Soicioeconômicos da África do Sul (Seri), comentava em outra mesa a "infâme proposta" de algumas tecnologias badaladas, como a do carvão mineral verde. A queima de carvão mineral tradicional, sobretudo para geração de eletricidade, é considerada a maior responsável pelas emissões de gases do efeito estufa e, consequentemente, pelo aquecimento global.
Novas tecnologias, porém, prometem uma "lavagem química" do carvão, reduzindo ao mínimo a quantidade emitida de dióxido de carbono – o principal gás do efeito estufa. O problema, segundo cientistas críticos à proposta, é que a "lavagem química" apenas modificaria o ambiente da contaminação – em vez do ar, os recursos d'água passam a receber o material ambientalmente danoso.
De acordo com o sul-africano Karumbidza, é notório e preocupante o aumento da presença das corporações petroleiras e mineradoras em seu país. "E o problema é que nossa produção é destinada à Europa e aos Estados Unidos, e não fica em nosso país", diz ele.
Na região semi-desértica de Karoo, considerada um santuário ecológico por ambientalistas, a transnacional britânico-holandesa Shell mantém projetos para exploração de gás natural. Mas um movimento promovido por organizações sociais deseja barrar o investimento. O argumento é o de que a técnica de engenharia para procurar o gás, baseada na perfuração de rochas e no uso de produtos químicos, pode contaminar o aquífero que existe sob a região, prejudicando a população e agricultores locais.

Conflitos à brasileira

Novos projetos de mineração, assim como novas áreas de cana-de-açúcar e eucalipto, trazem preocupação também a pequenos agricultores de Moçambique, outra nação africana na mira das transnacionais. De acordo com Bartolomeu Antonio Henriques, membro da União Nacional dos Camponeses de Moçambique e da Via Campesina, todas as terras de seu país são oficialmente do Estado e dependem de concessão governamental para serem exploradas.
O governo nacional, assim, tem tornado-se alvo de intenso lobby de companhias de diversos setores. "Ao menos em um caso, de uma empresa sul-africana que queria plantar cana na região de Magude (próxima à capital Maputo), conseguimos provar que havia camponeses no local a ser explorado e o governo acabou negando a concessão", disse Henriques.
Segundo o ativista, o Fórum Social Mundial deve auxiliá-lo a "aprender mais" sobre as causas das mudanças climáticas e a difundir as informações entre seus colegas. "Não basta dizer às pessoas do campo que precisam plantar mais árvores, é preciso explicar o porquê", concluiu.

publicado na Carta Maior

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