O jornal norte-americano Indian Country Today lançou uma campanha viral, no Facebook e no Twitter para dar expressão às vozes indignadas que se ergueram, quando se tornou público que 'Geronimo' foi o nome de código escolhido para a operação militar que conduziu à morte de Bin Laden. O neto do índio mítico reagiu e vários foram os que se solidarizaram com ele, exigindo um pedido de desculpas oficial de Barack Obama pela ofensa à sua memória.
A iniciativa do jornal é um gesto simbólico mas apresenta a vantagem de estar a repercutir nos media internacionais (por exemplo, aqui e aqui) como um reparo sério e sentido feito ao mundo, numa exigência clara de guardar respeito à memória dos povos indígenas, aos seus grandes referentes históricos e culturais.
Cf. também:
- The Life of Geronimo in Pictures
- Codename: Geronimo—The Blogosphere Reacts
- Geronimo’s Great-grandson Reacts
- Who’s On First? Inside the ‘Operation Geronimo’ War Room
[ACTUALIZADA]
Geronimo EKIA. A expressão encriptada utilizada para comunicar a Washington a morte “em acção” de Osama bin Laden ofendeu os nativos americanos, que exigem a Barack Obama um pedido formal de desculpas. Enquanto isso não acontece, prestam homenagem ao “verdadeiro espírito” do resistente apache através das redes sociais.
A ideia foi propagada pelo Indian Country Today, um jornal dedicado à população indígena norte-americana, na quinta-feira. O objectivo era que os seus leitores alterassem a foto de perfil no Facebook para uma de Geronimo (1829-1909) e a mantivessem durante dois dias. Pelo menos 152 pessoas gostaram da ideia.
É esse o número de “gostos” registado na mensagem que o jornal publicou no Facebook – onde tem mais de 23 mil seguidores. “Para homenagear o verdadeiro espírito de Geronimo, um guerreiro incrível e líder do seu povo, pedimos que nos próximos dois dias todos mudem a foto de perfil para uma de Geronimo”, lê-se.
“Farei.” O primeiro comentário é lacónico, não deixa dúvidas. O segundo acaba com um “são malucos”. Ao terceiro, já se recordam as divisões entre os nativos americanos: “Preferiria publicar uma do meu chefe Nuvem Vermelha”. Mais à frente com veemência: “Claro que não! Inimigo de muitas tribos... Matou e roubou para o seu próprio ganho!” (Esta merece réplica editorial e paráfrase de George W. Bush: “Ou estão connosco, ou contra nós”.)
A maior parte dos comentários aplaudem a iniciativa – “Grande ideia!”; “SIM” –, cujo último dia deveria ser hoje. Mas não será. O Dia da Mãe levou alguns leitores do Indian Country Today a adiar a publicação de uma foto de Geronimo, porque a hora é de homenagear as mães. Dizem que vão mudar a foto de perfil para uma do líder apache na segunda-feira. No Twitter, decorre a mesma campanha.
O jornal ajudou a divulgar uma ideia que alguns utilizadores destas redes sociais já tinham começado a executar individualmente. A acção de protesto é simbólica, mas está a chegar aos meios de comunicação norte-americanos, que também estão a registar os comentários de desagrado dos líderes da população indígena.
Entre os indignados está Harlyn Geronimo, bisneto do histórico resistente e ex-combatente do Vietname. “Baptizar uma operação para eliminar ou capturar Osama bin Laden com o nome Geronimo é uma distorção da História que é difamatória para um chefe índio-americano e um grande ser humano”, disse.
publicado em O Público
Geronimo, o nome de código dado a Bin Laden pela CIA durante a operação que levou à morte do líder da Al-Qaeda, foi criticado por várias organizações indígenas e ontem o bisneto do chefe apache afirmou num comunicado que era “um erro e um insulto” a utilização do nome para designar o terrorista ou a operação.
O líder apache Geronimo foi o homem que liderou o último grupo de guerreiros apache que resistiam aos americanos brancos no século XIX e foi considerado um dos mais resistentes inimigos dos EUA.
Já na quarta-feira, um representante da tribo apache exigira ao Presidente norte-americano, Barack Obama, um pedido de desculpas pela utilização "ofensiva" do nome Geronimo associado a “um assassino em massa e um terrorista cobarde” e na quinta-feira foi a vez de o próprio bisneto do líder apache se insurgir.
"Baptizar uma operação para eliminar ou capturar Osama bin Laden com o nome Geronimo é uma distorção da história que é difamatória para um chefe índio-americano e um grande ser humano", disse Harlyn Geronimo, ex-combatente do Vietname e descendente do chefe indígena.
O queixoso pediu ao Presidente Obama e ao secretário da Defesa, Robert Gates, que expliquem como conseguiram chegar a "uma utilização tão indigna do nome" do bisavô e exigiu também que a referência a Geronimo fosse retirada dos documentos oficiais que relatam a operação no Paquistão.
A carta do bisneto de Geronimo entrou na lista de depoimentos ouvidos na quinta-feira no Congresso durante uma audiência do Comité de Relações Indígenas sobre "estereótipos racistas e as populações autóctones".
Na publicação online índio-americana “nativetimes.com”, antigos combatentes índio americanos criticaram seriamente a comparação entre o terrorista e o chefe índio: “é a coisa mais racista que já vimos”, escreveram. “Isso coloca-nos na mesma categoria que os terroristas mais procurados do mundo”, criticou o antigo combatente Lloyd Goings.
publicado em o Público
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