Leio no Expresso:
Em resposta a uma pergunta do líder parlamentar do PSD durante o debate quinzenal no Parlamento a propósito do regresso de Portugal aos mercados em 2013, o primeiro-ministro começou por explicar a razão porque 23 de Setembro tem sido apontada como "uma data de referência".
"Há uma explicação para isso: Setembro de 2013 corresponde à data de vencimento de uma linha de obrigações do Tesouro que ocorre pela primeira vez fora do período de garantia do período em que o FMI e a UE garantem transferências financeiras para Portugal", disse. [Contudo, isto] "não significa uma data em absoluto para que Portugal regresse aos mercados, significa que nessa data nós precisamos de ter previamente confiança nos mercados para sem ajuda adicional puder cumprir as nossas obrigações", sublinhou Passos Coelho.
Duas notas:
- É estranha a relação de importância do primeiro-ministro com a "confiança". A obsessão com que a quer reforçar lá fora (ou seja, junto dos mercados) é inversamente proporcional à displicência com que a abala cá dentro (ou seja, junto dos portugueses). As trapalhadas, omissões e inverdades que esta última semana deixou ao léu são, esse título, absolutamente, exemplares.
- Bem pode agora Passos Coelho vir chamar a Setembro de 2013 uma "data de referência" e explicá-la como muito bem entender. Baptize-a como lhe aprouver, que o essencial permanece o mesmo: Setembro de 2013 foi sempre a data que deu como certa para o regresso do país aos mercados e ponto final. É com ela que tem andado a trabalhar desde a campanha eleitoral: para vender ao país a ideia de que o seu programa é o único capaz de a respeitar em condições e no prazo. É a dela que se tem socorrido, a cada vez que anuncia mais um pacote de austeridade capaz de fazer rebelar o mais santo: para afiançar que vai doer, mas que a dor tem fim marcado no calendário e que, portanto, vale a pena aguentar. É por causa dela que papagueia invariavelmente a mesma ladaínha do "nem mais dinheiro, nem mais tempo" em que insiste desde o começo: para recusar dialogar sobre propostas alternativas, alegando que fazê-lo só serviria para comprometer a evidência seguríssima dessa meta infalível e, como tal, exigir que o deixem conduzir a situação à sua maneira.
Que Setembro de 2013 se pode considerar tudo menos a data do final da agonia, tudo menos o momento de consumação do supremo milagre, isso já todos sabíamos. Há muito tempo que o suspeitávamos. Que não será data de coisa nenhuma, muito menos da salvação, também já não é para nós novidade. A ser surpresa que afinal o não seja, só se for para Passos Coelho e companhia.
Assim sendo, que não perca mais tempo em malabarismos inúteis para explicar o que não vale a pena. Que nos poupe a mais semanas de frente para o triste espectáculo de um Executivo a esbracejar aflito na teia das suas próprias mentiras, como esta que passou. Que se sente antes com os que abriram os olhos mais cedo, que abdique da cegueira compulsiva, que humildemente prescinda da sua teimosia patética e trate, em vez disso, de rever os planos e refazer o rumo. Porque Setembro de 2013, como ele próprio já começou a dizer, é uma data que deixou de servir seja para o que for. Iludir-nos, nem pensar. Desculpá-lo, menos ainda.
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