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Dia triste: mataram Zé Cláudio e a mulher, dois enérgicos defensores da Amazônia


via TEDxAmazônia

Em Novembro de 2010, Zé Cláudio Ribeiro foi até Manaus participar no TEDxAmazônia. Anunciou que daria uma modesta palestra assente «apenas» na sua experiência diária na região de Marabá, no Pará (a 440 km da capital Belém), e nos 24 anos que leva num assentamento extrativista, produzindo castanhas de maneira sustentável, resistindo ao boom da construção na Amazônia e à pressão de derrubar essas árvores impressionantes. No seu testemunho falou da batalha que travava na defesa do valor da 'floresta em pé' e explicou porque considerava que «matar árvores é assassinato». Confessou-se humano e reconheceu ter medo: «mas o meu medo não empata de eu ficar calado. Enquanto eu tiver forças eu estarei denunciando todos aqueles que fazem mal para a floresta». Nesse dia, perante o auditório, contou que recebia várias ameaças de morte e sabia viver «com a bala na cabeça» a qualquer momento. Para miséria dos humanos e das árvores da Floresta, esse dia chegou hoje de manhã: Zé Cláudio Ribeiro e a mulher foram assassinados numa emboscada, a poucos metros de casa.

[ACTUALIZADA]

A reportagem completa sobre o caso notíciado aqui, no Conexão, para ler na íntegra clicando no link em baixo, para expansão do texto.




Casal de extrativistas é assassinado no Pará

O casal de lideres extrativistas José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva foi executado na manhã desta terça-feira na cidade de Nova Ipixuna, no sudeste do Pará, cidade a 390 quilômetros de Belém.
A suspeita de Organizações Não Governamentais (ONG’s) e da família de Ribeiro é que ele tenha sido executado por madeireiros da região. Silva era considerado sucessor de Chico Mendes, em referência ao líder dos seringueiros do Acre que foi morto em 1988 por sua defesa da Amazônia.
Pelas primeiras informações, o casal saiu do Projeto de Assentamento Agroextrativista Praia Alta Piranheira, localizado a cerca de 50 quilômetros da sede do município de Nova Ipixuna, quando foi  cercado em uma ponte por pistoleiros. Ali, eles foram executados a tiros.
A Polícia Civil do Pará está investigando o caso mas não confirmou ainda a hipótese de execução comandada por madeireiros da região. O Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), ONG fundada por Chico Mendes da qual o casal participava, solicitou também investigação por parte da Polícia Federal e apoio do Ministério Público Federal (MPF) e Assembléia Legislativa do Pará. A presidenta Dilma Rousseff determinou que a PF ajude a desvendar o caso.
José Claudio da Silva vinha recebendo ameaças de madeireiros da região desde 2008. Segundo informações do CNS, desconhecidos costumavam rondar a residência do casal disparando vários tiros para tentar intimidá-los. José Cláudio da Silva era um dos principais defensores da preservação das floresta amazônica após a morte de Chico Mendes e constantemente fazia denúncias sobre o avanço ilegal na área de de preservação onde trabalhava por madeireiros para extração de espécies como castanheira, angelim e jatobá.

As ameaças

Em novembro do ano passado, durante evento que discutiu a preservação da floresta amazônica (veja vídeo abaixo), José Cláudio da Silva classificou como “assassinato” a derrubada de árvores da região e disse que “vivia com a bala na cabeça” por causa das constantes denúncias contra madeireiros. “Vivo da floresta, protejo ela de todo jeito. Por isso, eu vivo com a bala na cabeça a qualquer hora, porque eu vou pra cima, eu denuncio os madeireiros, eu denuncio os carvoeiros e por isso eles acham que eu não posso existir”, disse.
Ele ainda declarou. “A mesma coisa que fizeram no Acre com Chico Mendes querem fazer comigo. A mesma coisa que fizeram com a Irmã Dorothy querem fazer comigo. Eu estou aqui conversando com vocês, daqui um mês vocês podem saber a notícia que eu desapareci. Me perguntam: tenho medo? Tenho, sou ser humano, mas o meu medo não me cala. Enquanto eu tiver força pra andar eu estarei denunciando aquele que prejudica a floresta”, afirmou.
Segundo Atanagildo Matos, Diretor da Regional Belém do CNS, a morte de José Cláudio e Maria da Silva é uma perda irreparável. “Eles nos deixam uma lição, que é o ideal dos extrativistas da Amazônia: permitir que o povo da floresta possa viver com qualidade, de forma sustentável, em harmonia com o meio ambiente”, diz Matos.
O casal vivia há 24 anos em Nova Ipixuna. Eles moravam em uma área de aproximadamente 20 hectares, com 80% de área verde preservada. Eles viviam da extração de óleos de andiroba e castanha e recentemente firmaram um convênio com a Universidade Federal do Pará para produção sustentável de óleos vegetais. Além do casal, outras 500 famílias moravam no PAEX Praialta Piranheira que tinha uma área total de 22 mil hectares.

Marabá fica a 440 quilómetros de Belém, capital do Pará. fonte: Google Maps

Orelhas de extrativistas foram cortadas, diz polícia

Além de assassinar o casal de líderes extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, em Nova Ipixuna, cidade a 390 quilômetros de Belém, os autores do crime ainda deceparam uma orelha de cada vítima após o duplo homicídio. As informações foram confirmadas pelo delegado de Nova Ipixuna Marcos Augusto Cruz, integrante da comissão de policiais que investigam o caso.
Pelas primeiras informações da Polícia Civil, o casal foi executado na manhã desta terça-feira com tiros de espingarda na cabeça disparados por pelo menos dois homens. O homicídio ocorreu em um terreno ermo, a aproximadamente cinco quilômetros do Assentamento Agroextrativista Praia Alta Piranheira, onde os dois moravam. O assentamento está localizado a 42 quilômetros da sede município de Nova Ipixuna. “Foi um crime cruel”, definiu o delegado Marcos Cruz.
A primeira frente de investigação da Polícia Civil é que esse tenha sido um crime de encomenda, patrocinado por madeireiros da região. Mas a Polícia paraense não descarta ainda outras hipóteses.
“Encontramos o cenário típico de um crime de encomenda”, confirmou o delegado Marcos Cruz.  “Trabalhamos com várias linhas, mas pelo fato dele ser líder de movimentos sociais e viver um contexto de conflitos com madeireiros na região, isso sugere que valorizemos essa frente (de investigação)”, esclareceu o delegado. Após as primeiras investigações, a polícia já enumerou algumas pessoas consideradas suspeitas de participação no crime. Os nomes não foram divulgados.

"Covardia"

Em nota oficial divulgada no início da noite, o governador do Pará, Simão Jatene (PSDB), classificou o episódio como uma “atitude irracional e hedionda”. “O Estado não tolera mais a violência contra trabalhadores. O Pará não admite que seu território seja transformado em campo minado de pistoleiros e mandantes”, afirmou.
Jatene repudiou a “covardia de quem perpreta esse tipo de crime” e assegurou que “não vai sossegar enquanto os executores e os mandantes não estiverem na cadeia”. “No momento em que o Estado se empenha em implantar e efetivar um programa de desenvolvimento sustentável, que valoriza a preservação da floresta e pacifica as relações entre produtores, trabalhadores e poderes constituídos – o Programa Municípios Verdes -, não se pode assistir a essa brutalidade sem uma providência enérgica”, disse.
Por fim, o tucano afirmou que “esses crimes não ficarão impunes”. O velório do casal acontecerá na manhã desta quarta-feira, em Marabá, município distante 60 quilômetros de Nova Ipixuna. Cerca de 100 amigos e ambientalistas já estão em Marabá para as últimas homenagens.


"Polícia só volta com responsáveis presos", diz governo do Pará

Após o assassinato do casal de líderes extrativistas José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva na manhã desta terça-feira em Nova Ipixuna, no sudeste do Pará, o secretário de segurança do Pará, Luiz Fernandes Rocha, afirmou que “não irá mais tolerar esse tipo de violência”.
"Polícia só volta com responsáveis presos", diz governo do Pará sobre morte do casal
Nesta terça-feira, equipes do Núcleo de Apoio à Inteligência de Marabá, homens da Delegacia de Conflitos Agrários de Marabá e de Belém, a Polícia Civil e peritos do Instituto Renato Chaves se reuniram em Marabá, cidade distante cerca de 60 quilômetros de Nova Ipixuna. Eles vão investigar como o casal foi executado. Pelo menos 50 policiais estão envolvidos no caso.
“O Estado não vai tolerar mais esse tipo de violência em nosso território. Mobilizamos uma grande equipe para ir até o local e investigar o problema e só voltar com os responsáveis presos”, disse o secretário Luiz Fernandes Rocha.
Nesse momento da investigação, a Polícia Civil trabalha com três hipóteses. Uma frente trabalha com o crime de execução comandado por madeireiros da região, grupo que foi alvo de diversas denúncias de José Cláudio Ribeiro. Outra possibilidade é de que o casal tenha sido assassinado por carvoeiros que tentaram avançar entrar na área do  Projeto Assentamento Agroextrativista Praia Alta Piranheira, presidido por Silva.Aa terceira hipótese seria a de uma vingança contra o líder extrativista em função de um homicídio ocorrido em 2004 em que ele foi apontado como suspeito na época - mas que nunca foi comprovado.
A tendência é que a partir da quarta-feira o próprio secretário de Segurança do Pará comande as investigações do assassinato do casal de extrativistas. A Polícia Federal também foi acionada para ajudar a elucidar o crime, a pedido da presidenta da República, Dilma Rousseff (PT). Até o momento, não se tem informações de suspeitos.
Informações preliminares dão conta de que o crime teria sido cometido por dois homens que estavam em uma motocicleta, circulando pelo Praia Alta Piranheira, instantes antes da execução do casal. A Polícia Civil soube do crime por volta das 7h30 desta terça-feira.

Faroeste

Na cidade onde aconteceu o crime, segundo a coordenadora do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), ONG fundada por Chico Mendes, Cristina Silva, existe um misto de medo e de revolta pela morte do casal. “A cidade parece um faroeste. As pessoas olham desconfiadas e não querem dar muitas informações”, revela.
Na tarde desta terça-feira, o Fórum da Amazônia Oriental (Faor), que reúne ONGs e movimentos sociais com atuação no Maranhão, Pará, Amapá e Tocantins, divulgou nota afirmando que José Cláudio “estava marcado para morrer”. “José Cláudio estava marcado para morrer desde que começou a denunciar o desmatamento e a extração ilegal de madeira na região”, afirmou a entidade em nota. “Mais uma vez tombam aqueles e aquelas que insistem em defender a floresta”, complementa a instituição que pediu rapidez nas investigações.
O velório do casal acontecerá na cidade de Marabá, na residência de familiares, na manhã desta quarta-feira. ONGs preparam uma de ato de homenagem ao casal com faixas e cartazes. Ambientalistas já começaram a chegar em Marabá para prestar suas últimas homenagens aos extrativistas assassinados.


Com medo, mãe de extrativista executado diz que vai deixar sua casa

A execução do casal de extrativistas Maria do Espírito Santo da Silva e José Cláudio da Silva traumatizou a família, que fala em deixar o assentamento onde viviam juntos. A mãe de José Cláudio, a aposentada Raimunda da Silva dos Santos, de 73 anos, afirma que deixará o acampamento em Nova Ipixuna, cidade a 390 quilômetros de Belém, que o casal ajudou a fundar há aproximadamente 20 anos.
Dona Raimunda afirmou nesta quarta-feira, durante o velório do casal, que há vários meses pessoas batiam em sua porta em horários estranhos, inclusive de madrugada. Ela foi obrigada a colocar um cachorro em sua residência em uma tentativa de intimidar os invasores. “Mas nada funcionou”, disse. “Ora, se meu filho foi assassinado imagina que pode acontecer comigo?”, questiona a aposentada.
Ela mora com uma filha e mais três netos no povoado Arupá, próximo á Maçaranduba II, onde o casal de líderes ambientais vivia. Outros membros da família que também moram no Assentamento Agroextrativista Praia Alta Piranheira, que engloba vários povoados, devem deixar o local após o assassinato do casal. O próprio casal vivia ameaças de fazendeiros e de madeireiros da região e relatou o caso às autoridades locais. Porém, nenhuma medida foi tomada.
“Era comum pessoas nos ameaçarem com tiros”, disse a sobrinha do casal, Clara Santos.

O assentamento

O clima no Assentamento Alta Piranheira nesta quarta-feira, segundo informações de familiares, ainda é tenso. Policiais Militares foram deslocados para o Nova Ipixuna para garantir a segurança e proteção das 500 famílias que moram na região.
A morte do casal foi a quarta em conseqüência de conflitos agrários em 2011 apenas na região de Marabá, segundo a Delegacia Especial de combate a Crimes Agrários (Deca). Nos últimos 40 anos, segundo dados da Pastoral da Terra, pelo menos 600 trabalhadores rurais morreram no Pará após disputa com madeireiros e fazendeiros.

Velório

Cerca de 700 pessoas compareceram ao velório do casal, que foi realizado em uma residência no bairro Nova Marabá, na periferia de Marabá - cidade a 440 quilômetros de Belém. Na residência dos familiares do casal há faixas pretas pedindo justiça, o fim da violência no campo e o fim da impunidade.
Nesta quinta-feira, movimentos sociais prometem realizar protestos cobrando das autoridades celeridade nas investigações. “O Estado, sem dúvida, é culpado dessa morte. Afinal, eles denunciaram os conflitos agrários na região e, principalmente, pediram ajuda e nunca foram atendidos. Agora, não adianta mais”, declarou o Atanagildo Matos, coordenador do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS).
Alguns curiosos, amigos da família e também vizinhos também demonstraram sua revolta, mas evitaram dar nomes. Muitas pessoas temem retaliações de madeireiros e fazendeiros. “Normalmente, quem bate em madeireiro não fica muito tempo vivo”, justificou um morador que preferiu não se identificar. “Mas esse crime foi revoltante. Ele apenas lutava pela floreta. Apenas isso”, complementou.

Polícia Federal

Nesta quarta-feira, a Polícia Federal entrou no caso e indicou o delegado Marcelo Daemon para ajudar nas investigações da Polícia Civil. A Ouvidoria Agrária Nacional também prestou solidariedade à família e prometeu que a partir de agora haverá a intensificação das investigações. “O que podemos fazer é dar ajuda financeira e determinar a ajuda da Polícia Federal no caso”, disse o desembargador Gercino José Filho, coordenador da Ouvidoria Agrária.
Durante o dia, amigos e pessoas que estavam no assentamento na hora do assassinato dos extrativistas prestaram depoimentos. Segundo o delegado Humberto Ribeiro Júnior, que preside o inquérito,houve avanços para se chegar aos responsáveis pelo assassinato. O inquérito tem 30 dias para ser concluído, podendo ser prorrogado por igual período.
Maria do Espírito Santo e José Cláudio da Silva integravam a lista de aproximadamente 30 pessoas que, segundo a Pastoral da Terra, estavam marcadas para morrer em 2011.


Velório de casal extrativista é marcado por medo e revolta

Um misto de revolta e preocupação marca o velório em homenagem ao casal de extrativistas Maria do Espírito Santo da Silva e José Cláudio da Silva, assassinados a tiros de espingarda na manhã de terça-feira, em Nova Ipixuna, cidade a 390 quilômetros de Belém. O casal está sendo velado no Cemitério da Saudade, em Marabá, cidade a 440 quilômetros da capital paraense.
Durante todo o dia, representantes de movimentos sociais como o Movimento Sem Terra (MST), Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) - ONG fundada por Chico Mendes -, Fórum da Amazônia Oriental (Faor), que reúne ONGs e movimentos sociais com atuação no Maranhão, Pará, Amapá e Tocantins, prestaram suas últimas homenagens aos extrativistas e protestaram contra a sua morte. Pelo menos 100 membros dessas entidades estão em Marabá para o enterro do casal.
Os dois serão enterrados na manhã desta quinta-feira, por volta das 10h, no no Cemitério da Saudade. Entidades como o MST e CNS prometem realizar uma passeata pelas ruas de Marabá contra a violência no campo. Também está previsto um ato ecumênico em homenagem ao casal.
Entre os moradores de Marabá que foram ao velório predomina o medo: “Se eles fizeram isso com quem tinha espaço na mídia, imagina com quem não tem”, disse um homem, que preferiu não se identificar.
A Policia Civil do Pará está intensificando as investigações em Nova Ipixuna para chegar aos possíveis autores do crime. Já existe uma lista de suspeitos, ainda não divulgada pela polícia. A primeira linha de investigação aponta que o casal foi morto por madeireiros que atuam na região. Além de serem assassinados, eles também tiveram suas orelhas cortadas.

As ameaças

Em novembro do ano passado, durante evento que discutiu a preservação da floresta amazônica, José Cláudio da Silva classificou como “assassinato” a derrubada de árvores da região e disse que “vivia com a bala na cabeça” por causa das constantes denúncias contra madeireiros. “Vivo da floresta, protejo ela de todo jeito. Por isso, eu vivo com a bala na cabeça a qualquer hora, porque eu vou pra cima, eu denuncio os madeireiros, eu denuncio os carvoeiros e por isso eles acham que eu não posso existir”, disse.
Ele ainda declarou. “A mesma coisa que fizeram no Acre com Chico Mendes querem fazer comigo. A mesma coisa que fizeram com a Irmã Dorothy querem fazer comigo. Eu estou aqui conversando com vocês, daqui um mês vocês podem saber a notícia que eu desapareci. Me perguntam: tenho medo? Tenho, sou ser humano, mas o meu medo não me cala. Enquanto eu tiver força pra andar eu estarei denunciando aquele que prejudica a floresta”, afirmou.
O casal vivia há 24 anos em Nova Ipixuna. Eles moravam em uma área de aproximadamente 20 hectares, com 80% de área verde preservada, e viviam da extração de óleos de andiroba e castanha.


"Meu tio foi vítima do descaso", afirma sobrinha de casal extrativista

A sobrinha do líder extrativista José Cláudio Ribeiro da Silva, Clara Santos, afirmou ao iG na tarde desta terça-feira que o seu tio foi uma “vítima do descaso”.
Ela disse que o governo federal e e o governo estadual foram omissos em relação aos vários pedidos de proteção feitos por Silva após ele ter recebido diversas ameaças de morte de madeireiros da região. José Cláudio Ribeiro Silva foi executado a tiros ao lado da esposa, Maria do Espírito Santo da Silva, na manhã desta terça-feira em Nova Ipixuna, no sudeste do Pará.
Segundo Clara Santos, a família não teve notícias de que tanto o Estado quanto a União tenham enviado proteção ao seu tio. No ano passado, por exemplo, ele disse em evento que discutiu a preservação da floresta amazônica (veja vídeo abaixo) que vivia “com uma bala na cabeça”: “A mesma coisa que fizeram no Acre com Chico Mendes querem fazer comigo”, pontuou na época.
“Meu tio foi vítima do descaso. Ele ficava muito exposto e nunca os governos se manifestaram para dar apoio a ele. É revoltante, principalmente porque ele lutava por algo que deveria ser uma bandeira de luta do governo federal e estadual e não apenas dele”, disse Clara Santos.
“Ele pediu ajuda e proteção do Estado mas não tenho informações se foi atendido. Agora, depois que ele morreu, todos querem prestar solidariedade e ajuda. É uma pena. O Brasil perdeu um grande homem e com muita coerência em mais de 24 anos de luta”, declarou.
Segundo a família, entidades de proteção da floresta amazônica de todo o País já prestaram solidariedade.

Enterro

O corpo de José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo está no Instituto Médico Legal (IML) e ainda não foi liberado. Os familiares realizarão o velório do casal na cidade de Marabá, maior cidade da região e distante 440 quilômetros de Belém. O enterro deve acontecer nesta quinta-feira em local ainda não definido.
O casal foi assassinado na manhã desta terça-feira quando estava no Projeto de Assentamento Agroextrativista Praia Alta Piranheira, distante 42 quilômetros da sede do município de Nova Ipixuna, no sudeste do Pará.
Ele foi morto por dois homens em uma moto vermelha. A polícia ainda não conseguiu localizar os homens. A principal suspeita de Organizações Não Governamentais (ONGs) que atuam na região é que o casal tenha sido executado por madeireiros. Segundo a família, os dois homens estavam circulando o assentamento desde manhã. “Não posso afirmar que foram madeireiros, mas temos indícios dos responsáveis por isso”, disse Clara Santos.


Cortejo de casal extrativista interdida BR e ferrovia Carajás

Aproximadamente mil trabalhadores integrantes de movimentos sociais interditaram a BR-222 e a Estrada de Ferro Carajás na manhã desta quinta-feira, em Marabá, cidade a 440 quilômetros de Belém, no Estado do Pará. O ato foi de protesto contra o assasssinato dos extrativistas Maria do Espírito Santo da Silva e José Cláudio da Silva, mortos a tiros de espingarda na terça-feira (24), em Nova Ipixuna, a 390 km da capital paraense. As vias ficaram bloqueadas das 4h às 10h45. No momento, de acordo com a Polícia Militar, 3 mil manifestantes estão na entrada do Cemitério da Folha 29, onde será realizado o enterro do casal, em Marabá.
Durante a manifestação, os trabalhadores afirmaram que ferrovia e a rodovia seriam liberadas somente após a passagem do cortejo fúnebre. A interdição da ferrovia Carajás obrigou um trem da Companhia Vale do Rio Doce a retornar para sua estação em Marabá. Às 10h, um congestionamento de aproximadamente 15 quilômetros foi registrado na BR-222.
Integrantes do Movimento Sem Terra (MST) ameaçaram queimar o veículo de uma rádio local que estava à margem da rodovia interditada.

Velório

Na quarta-feira (25), revolta e preocupação marcaram o velório em homenagem ao casal no Cemitério da Saudade. Durante todo o dia, representantes do MST, Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) - ONG fundada por Chico Mendes -, Fórum da Amazônia Oriental (Faor), que reúne ONGs e movimentos sociais com atuação no Maranhão, Pará, Amapá e Tocantins, prestaram suas últimas homenagens aos extrativistas e protestaram contra a sua morte. Pelo menos 100 membros dessas entidades estão na cidade para o enterro do casal.

Cabeça a prémio

Em novembro do ano passado, durante evento que discutiu a preservação da floresta amazônica, José Cláudio da Silva classificou como “assassinato” a derrubada de árvores da região e disse que “vivia com a bala na cabeça” por causa das constantes denúncias contra madeireiros. “Vivo da floresta, protejo ela de todo jeito. Por isso, eu vivo com a bala na cabeça a qualquer hora, porque eu vou pra cima, eu denuncio os madeireiros, eu denuncio os carvoeiros e por isso eles acham que eu não posso existir”, disse.
Ele ainda declarou. “A mesma coisa que fizeram no Acre com Chico Mendes querem fazer comigo. A mesma coisa que fizeram com a Irmã Dorothy querem fazer comigo. Eu estou aqui conversando com vocês, daqui um mês vocês podem saber a notícia que eu desapareci. Me perguntam: tenho medo? Tenho, sou ser humano, mas o meu medo não me cala. Enquanto eu tiver força pra andar eu estarei denunciando aquele que prejudica a floresta”, afirmou.
O casal vivia há 24 anos em Nova Ipixuna. Eles moravam em uma área de aproximadamente 20 hectares, com 80% de área verde preservada, e viviam da extração de óleos de andiroba e castanha.


reportagem para o IG - Último Segundo
com fotos de Wilson Lima e Rodolfo Oliveira 

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