Esta noite, o líder dos comunistas denunciava a «elitização» crescente no acesso ao ensino e ao conhecimento em Portugal.
Antes de se julgar sobre a justeza do diagnóstico de Jerónimo e de nos deixarmos impressionar pela carga ideológica da expressão que utilizou para o resumir, melhor fora que se focasse a vista na realidade que anda, hoje em dia, ombro a ombro connosco. Todos nós temos filhos, ou sobrinhos, ou conhecidos, ou vizinhos que estudam. Mais que não seja, eles andam por aí. É perder algum tempo observando esses jovens, conversar com eles, perguntar-lhes. Basta para saber como, na realidade, as coisas se passam (ou deixaram de passar!):
- Maioria no Governo chumba projectos para isenções de propinas no Ensino Superior
- Crise: 6 mil alunos já abandonaram as universidades e mais de 10 mil sem bolsa
- 40% dos pedidos de bolsas na Universidade de Coimbra foram recusados
- Crise força 3300 alunos a desistirem do ensino superior desde o início deste ano lectivo
- Estudantes estão a abandonar universidades por razões económicas (vídeo)
- Recém-licenciados devem 1,4 milhões à banca
- A fuga de cérebros de Portugal será dramática
Ora, umas horas antes de Jerónimo, o ministro da Educação também disse umas coisas a respeito do problema. Foi a propósito das graves dificuldades que as restrições impostas pelo decreto-lei da execução orçamental estão já – como se vê, ouve e lê – a colocar à vida académica.Mais sucinto, prescindiu da análise e, independentemente dos sombreados da questão, passou à conclusão: a austeridade é para manter, "custe o que custar".
Assustadora a naturalidade com que Nuno Crato encolhe os ombros e fecha a discussão. Arrepiante a facilidade como lança mão à mesma máxima com que o Governo responde, actualmente, a qualquer advertência face à realidade do país: a fórmula da austeridade vale para tudo, logo «estende-se às universidades» também. Pronto. Está dito, está feito: ponto final no assunto, caso arrumado.
Choca constatar a indiferença do ministro diante das consequências desta política quando aplicada ao ensino, sim. Choca, mas não surpreende. Se a vimos aplicada na saúde, onde é a própria vida humana que fica posta em causa, como esperar que a "coragem" e a "tenacidade" do Governo soçobrasse diante das ameaças ao saber e ao conhecimento?! Se o Governo pouco se importa como o corpo, como esperar que se incomodasse com o intelecto?! Democrático, trata os dois com idêntico descaso. Esta actuação compromete irremediavelmente a formação das gerações futuras? Paciência!... É a crise. Passos Coelho e companhia estão à vontade: acreditam que "a conjunta internacional" lhes colocou nas mãos o álibi perfeito para cortarem a direito e nem sequer perderem tempo a medir as consequências.
A avaliar pelos sinais que dão, aposto que daqui a 20 anos, quando olharem para o Portugal que restou, Coelho e companhia não se sentirão nem um pouco responsáveis pelos velhos que não durarem, pelos doentes que não vingarem e muito menos pelos ignorantes que ajudarem a criar. Esses, – hão-de dizer-nos –, pelo menos, ainda estão vivos. Amputados, de asas cortadas, pés amarrados, embrutecidos, mas vivos. Saravá!... Que Deus lhes pague a generosidade.
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